Camila Abdo, um dos alvos da PF hoje, incentivou o primeiro ato contra o STF depois da pandemia

Atualizado em 16 de junho de 2020 às 12:37
Camila Abdo

Camila Abdo, uma das extremistas do gabinete do ódio presa hoje, foi o tema da reportagem publicada pelo DCM em 9 de abril, depois que divulgou um vídeo para pedir oração à avó, internada em estado grave com a covid-19.

Ela era negacionista e uma das incentivadoras do ato do dia 15 de março contra o Congresso Nacional e o STF. Fez a convocação mesmo contra a orientação de parentes, como o médico Rubens Calvo, que havia desaconselhado qualquer tipo de aglomeração.

Pouco depois do ato, a que ela não compareceu apesar de confirmar presença, a avó ficou doente e viria a falecer, algumas semanas depois.

Segue a reportagem publicada pelo DCM à época:

A militante de extrema direita Camila Abdo, que negava a gravidade do coronavírus, gravou um vídeo em que faz um apelo dramático para que as pessoas orem pela sua avó, que contraiu o Covid-19 e está internada em estado grave com a doença.

“Eu não perco a esperança porque isso é a palavra de Deus, e só cabe a Deus decidir o momento que isso vai acontecer.  Milagres existem sim. Milagres acontecem o tempo inteiro. Então, eu não perco as esperanças, e eu peço, por favor, para quem puder orar. Orar para que ela saia dessa porque, por mais eu tenha ouvido ‘ah, mas ela já tem 100 anos’, ‘ah, mas ela já é idosa’, ‘ah, mas ela tem outros problemas’, tudo bem, mas ela é avó, ela tem uma família, ela tem pessoas que amam ela”, disse Camila, no depoimento transmitido outro militante de extrema direita, Mauro Fagundes.

Discípula de Olavo de Carvalho, Camila tinha uma militância feroz contra o isolamento social. Revoltou-se quando a escola de seus filhos suspenderam as aulas por conta da pandemia.

“O Rotavírus matou e mata crianças até hoje e nunca suspenderam… Mesmo vacina, meu filho está com o Rota. H1N1 também matou e não suspenderam. Pra que tudo isso?”, questionou.

Em outra postagem, disse que o coronavírus era, na verdade, uma desculpa para implementar política de desencarceramento, quando presos começaram a ser transferidos para prisão domiciliar para evitar a transmissão da doença.

“No mais, Coronavírus não mata”, defendeu.

Com a transmissão comunitária, é impossível dizer como a avó de Camila foi contaminada. Com problemas de locomoção, é provável que alguém tenha levado o vírus até ela.

É inútil responsabilizar alguém pela contaminação neste estágio da pandemia.

Mas é inegável que Camila tenha, deliberadamente, se exposto ao risco de se contaminar — e, portanto, manifestar os sintomas da doenças ou transmitir o vírus a outros —, quando anunciou a seus seguidores na internet que iria para a manifestação do dia 15 de março, apesar das advertências dos especialistas contra a aglomeração.

Ela faz parte de um movimento de extrema direita chamado Avança Brasil, pelo qual, como jornalista, faz o trabalho de divulgação. Como o movimento decidiu não participar do ato do dia 15, ela divulgou um vídeo em que avisou:

“No vídeo na página do Avança, eu falo em nome do Avança. No meu canal, eu falo em meu nome e, em meu nome, eu encontro vocês na Paulista, às 14 horas, no Vão do Masp.”

Depois que Jair Bolsonaro, em uma live com Mandetta, disse que a manifestação poderia ser adiada, ela foi ao Twitter:

“Nós, da facção olavista, estaremos presentes na manifestação. #DesculpaJairMasEuVou”.

A posição extrema de Camila surpreendeu até parentes que são médicos. Um deles, Rubens Calvo divulgou vídeo para alertar para a gravidade da doença, e recomendou o isolamento social. Para Camila, não adiantou.

Camila Abdo mostra a foto da avó sendo alimentada por sonda

E agora, mesmo diante do estado grave em que se encontra avó, dona Sebastiana, Camila continua com discurso político sobre a doença.

Alinhada a Bolsonaro, ela responsabiliza o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pelas dificuldades que a avó enfrenta.

Ela acha que Mandetta é responsável pela não prescrição da cloroquina a dona Sebastiana. Mandetta é ministro da Saúde, com sede em Brasília, e avó de Camila está internada em um hospital em São Paulo.

“Não tenho palavras para adjetivar o Mandetta. Hipócrita e assassino. A angústia q eu e a minha família estamos vivendo é torturante. A cada vez q meu tel toca, eu penso: “Pqp, aconteceu”. Se o remédio tivesse sido dado qdo eu implorei pro médico, minha avó não estaria agonizando”, escreveu no Twitter.

Em outras postagens, sempre usando a expressão “vírus chinês”, ela atacou também a Organização Mundial de Saúde, que seria contra o uso da cloroquina nos estágios iniciais da doenças.

Não é isso.

A prescrição da cloroquina não é proibida. Fica a critério de cada médico decidir se usa ou não o medicamento. Isso porque é um remédio indicado para malária e tem efeitos colaterais que podem levar até a morte.

Bolsonaro, que quer demitir Mandetta, faz propaganda do medicamento, produzido no Brasil por um empresário bolsonarista e nos Estados Unidos por um laboratório do qual Donald Trump é sócio.

Camila é tão próxima de Bolsonaro que, segundo reportagem da revista Crusoé, ela foi indicada para o gabinete de deputado estadual Coronel Nishikawa, de São Paulo, pelo senador Flávio Bolsonaro, depois de espalhar fake news beneficiavam o filho mais velho do presidente.

Hoje, diante do apelo de Camila e também de suas postagens políticas, até celebridades que militam no campo da direita, como Danilo Gentile, se manifestaram para lembrar que Camila desafiou a orientação científica em muitos momentos.

“Que Deus abençoe a vó dessa garota. Que ela passe dos cem anos! Mas fica o registro da doença da neta, q muda a narrativa conforme o gabinete orienta. Hoje precisam responsabilizar o novo inimigo, o Mandetta, pelas mortes que até outro dia, para essa mesma garota, não existiam. Triste”.

De fato, deprimente.

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Atualização: Camila Abdo enviou e-mail ao DCM com a solicitação de direito de resposta. Ela não nega que divulgou o vídeo no qual informou que estaria presente no ato do dia 15 de março, mas garante que não esteve lá e apresenta como evidência uma live que fez no mesmo dia, com entrevista de uma pessoa presente na manifestação. Para ler o texto de Camila Abdo na íntegra, clique aqui (link suprimido). A resposta dela está publicada aqui, com alterações solicitadas por ele posteriormente ao envio do requerimento.