Caminhoneiros estavam instrumentalizados pela direita que não deseja eleições. Por Afrânio Silva Jardim

Atualizado em 31 de maio de 2018 às 9:13

Publicado originalmente na fanpage de Facebook do autor

POR AFRÂNIO SILVA JARDIM, professor de Direito da UERJ

Caminhoneiro e caminhão em Brasília. Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

FINALMENTE, FOI “ABORTADO” O GOLPE DA DIREITA. ENTRETANTO, O MAIS PREOCUPANTE É QUE A POPULAÇÃO NÃO SE POSICIONOU COM CLAREZA, CHEGANDO A PARECER QUE APOIAVA ESTA SUSPEITA PARALISAÇÃO.

Acho que restou amplamente demonstrado que a paralisação dos caminhoneiros começou por meio de um verdadeiro locaute das empresas de transporte rodoviário de cargas.
O apoio das classes empresariais e da grande mídia foi evidente.

Acho que restou amplamente demonstrado que várias instituições policiais do governo federal e da maioria dos Estados – sabidamente reacionárias ou conservadoras – fizeram “corpo mole” e chegaram, até mesmo, a manifestar apoio e solidariedade à paralisação que tanto prejuízo causou ao país e à população.

Sequer as polícias rodoviárias obedeceram à ordem de multar os caminhões parados nas estradas. Aliás, para isso, não precisavam de ordem superior, pois se trata de uma imposição legal. Prevaricação???

Acho que restou amplamente demonstrado que muitos dos caminhoneiros estavam sendo instrumentalizados pelas forças de direita que não desejam a realização das próximas eleições presidenciais e pediam a nefasta intervenção militar.

A maioria destes caminhoneiros não tem consciência política e se deixam levar pelos interesses empresariais e do grande capital, que estão por trás de tudo isso.

Entretanto, na minha modesta avaliação, o que mais me preocupa é que a população em geral – a maior prejudicada pela suspeita paralisação – hipotecou solidariedade a este movimento “orquestrado” pelas forças de direita.

O mais preocupante é que esta população percebeu que se tratava de um movimento contra o pensamento de esquerda. Vale dizer, a população se posicionou a favor de soluções autoritárias para os nossos problemas sociais.

Desta forma, fica claro que os movimentos sociais e políticos de esquerda estão precisando fazer um sério e competente trabalho de conscientização política, mostrando quem está realmente do lado do povo, quem pode efetivamente lutar por uma sociedade mais justa, mais solidária e menos individualista.

É preciso que a população tenha muito claro que o mercado concentra e não distribui a renda. A atual política de preços da Petrobrás é um exemplo disto. O neoliberalismo é altamente danoso para o povo trabalhador. Só um governo democrático pode impedir este “darwinismo” social. O inimigo da população não é o Estado e, sim, o capital, que explora a força de trabalho.

Na verdade, em razão desta manipulação dos grandes meios de comunicação, sob o aspecto político, a nossa população está à deriva, está perdida, tornando-se frágil vítima e “massa de manobra” da extrema direita em nosso país.

Nada disso está sendo compreendido pela nossa imatura esquerda, que prima por falta de sensibilidade política e até parece que não tem uma estratégia competente para chegar ao poder. Por vezes, chega a fazer o “jogo da direita” e contribui para uma indesejável instabilidade social e política, colocando em risco as próximas eleições presidenciais. Nelas, a nossa vitória é quase que certa, pois a direita não tem sequer um candidato eleitoralmente viável.

Enfim, diante da falta de educação política e ideológica de nossa população, mais do que nunca se torna alarmante e atual a conhecida advertência de Bertolt Brecht: “A cadela do fascismo está sempre no cio”.