
A camisa da seleção brasileira de futebol está perdida para sempre, associada ao bolsonarismo. Está manchada pela extrema-direita, que a veste em cada comício golpista.
O que fazer? Mudar, reciclar. Acontece nas piores famílias. Ninguém aguenta mais torcer para a equipe da CBF, e não apenas por causa do desempenho vergonhoso dos atletas em campo e fora dele.
Após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha se viu dividida entre o Oriente e o Ocidente, e o processo de reconstrução da identidade nacional foi longo e repleto de simbolismos. Um exemplo marcante foi a adoção de hinos nacionais que refletiam as mudanças políticas e sociais.
A República Democrática Alemã (RDA), representando o bloco socialista, adotou o hino “Auferstanden aus Ruinen” (“Reerguidos das ruínas”), refletindo uma reconstrução. Já a República Federal da Alemanha (RFA), a parte ocidental, demorou a adotar um hino oficial e, quando finalmente o fez em 1952, optou por “Deutschlandlied” (“Canção da Alemanha”), mas com a exclusão da primeira estrofe.
A decisão de vetar esse trecho foi uma medida cautelar em pleno período de desnazificação, evitando qualquer associação com os ideais hitleristas (caiu “Deutschland, Deutschland über alles, Über alles in der Welt”, ou seja, “Alemanha, Alemanha acima de tudo/ Acima de tudo no mundo”).
Em 1938, durante o regime fascista de Benito Mussolini, a seleção italiana passou a usar um uniforme preto. Jogaram assim na Copa do Mundo na França. A escolha da cor, que remetia aos camicie nere, exércitos paramilitares fascistas, foi temporária. Após a morte de Mussolini e o término do conflito, o azul foi retomado como a cor oficial.

Esse histórico de reconstrução simbólica e de conscientização de que certos símbolos e práticas precisam ser afastados devido às suas associações com tiranias pode ser comparado à situação atual do futebol brasileiro. A camisa canarinho, em sua tradicionalidade e identidade, passou a carregar uma conotação sinistra.
O Brasil enfrenta a necessidade de recuperar o amor pelo time nacional, conspurcado também por cafajestes como Neymar e acólitos. A camisa, que antes era símbolo de orgulho, se tornou unifirme dos seguidores de Jair Bolsonaro.
Portanto, assim como a Alemanha teve que adotar um novo entendimento do seu hino e a Itália recuperar a Azzurra em nome de uma nova realidade, o Brasil, hoje, precisa considerar a mudança de sua camisa da seleção.