Câncer precoce aumenta 284% no SUS entre 2013 e 2024; entenda

Atualizado em 12 de outubro de 2025 às 18:47
Mulher jovem em tratamento contra o câncer recebe apoio familiar. Foto: Ilustração/Pixel-Shot / Shutterstock

Entre 2013 e 2024, o número de diagnósticos de câncer em pessoas de até 50 anos cresceu 284% no Sistema Único de Saúde (SUS), passando de 45,5 mil para 174,9 mil casos, segundo levantamento do g1 com base em dados do DataSUS. O aumento acompanha uma tendência mundial de avanço da doença entre jovens adultos. Os tumores de mama, colorretal e fígado estão entre os que mais crescem nessa faixa etária, com destaque para o câncer de mama, que teve alta de 45% e já registra mais de 22 mil novos casos anuais em mulheres de até 50 anos.

Especialistas afirmam que o cenário é agravado pela falta de informações consolidadas da rede privada, o que impede dimensionar a real incidência da doença no país. Segundo o oncologista Stephen Stefani, do grupo Oncoclínicas, o Brasil subestima o problema, já que a notificação de casos na saúde suplementar não é obrigatória. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) confirma que não dispõe de dados sobre a incidência de câncer nos planos de saúde devido a restrições no uso da Classificação Internacional de Doenças.

O câncer colorretal, que inclui tumores de cólon, reto e canal anal, teve crescimento de 160% entre 2013 e 2024, segundo o DataSUS. O médico Samuel Aguiar, do A.C.Camargo Cancer Center, associa o aumento a hábitos de vida pouco saudáveis, como alimentação industrializada, sedentarismo e obesidade. Ele ressalta que a baixa adesão a exames preventivos, como a colonoscopia, também contribui para diagnósticos tardios, especialmente entre pacientes mais jovens.

Os médicos observam uma mudança no perfil dos pacientes: antes predominante em idosos, o câncer passou a atingir pessoas jovens, ativas e com rotina acelerada. Fatores como estresse, sobrepeso e noites mal dormidas se somam ao consumo excessivo de ultraprocessados e bebidas alcoólicas. A obesidade é apontada como fator de risco relevante, por gerar inflamações crônicas que favorecem mutações celulares.

Medição abdominal com fita métrica. Foto: Getty Images

Para a médica nuclear Sumara Abdo, do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o sistema ainda não está preparado para detectar precocemente esses casos. Ela defende ampliar programas de rastreamento para menores de 50 anos, especialmente em grupos com histórico familiar ou sintomas persistentes. A especialista lembra que o diagnóstico precoce aumenta em até 90% as chances de cura e deve incluir exames de imagem e acompanhamento regular.

Estudo publicado na revista Nature Medicine mostra que o aumento de casos entre jovens é um fenômeno global, impulsionado por fatores como poluição, desequilíbrios na microbiota intestinal e sono insuficiente. No Brasil, desigualdade e acesso limitado ao diagnóstico precoce agravam a situação. Especialistas defendem políticas públicas que integrem prevenção, rastreamento e acesso ao tratamento, sob risco de o país repetir o padrão de nações como Estados Unidos e Reino Unido, onde os casos precoces já somam 20% dos diagnósticos anuais.