
Pesquisadores em todo o mundo tentam entender o aumento expressivo dos casos de câncer entre pessoas de 20 a 40 anos — especialmente entre os millennials, nascidos entre 1981 e 1996. Estudos apontam que, embora a incidência geral da doença esteja caindo entre os mais velhos, ela subiu cerca de 10% nas faixas etárias mais jovens desde o ano 2000. Cientistas agora buscam respostas fora da genética, investigando como fatores da vida moderna estão alterando a biologia humana. Com informações do Estadão.
Entre as hipóteses mais fortes estão o impacto de medicamentos usados durante a gestação nas décadas de 1960 e 70, o consumo crescente de alimentos ultraprocessados, a exposição a produtos químicos sintéticos e microplásticos, e a desorganização dos ritmos circadianos — consequência da iluminação artificial, da falta de sono e do uso constante de telas. Pesquisadores como Gary Patti, da Universidade de Washington, e Yin Cao, especialista em cirurgia oncológica, acreditam que essas exposições cumulativas podem estar “acelerando o envelhecimento biológico” e antecipando doenças antes restritas à meia-idade.
Estudos recentes também reforçam a influência da dieta moderna. Segundo pesquisa publicada na BMJ em 2023, o consumo frequente de ultraprocessados aumenta o risco de câncer colorretal e de mama — dois dos tipos mais comuns entre adultos jovens. Já uma iniciativa global da Universidade de Harvard associou o consumo elevado desses produtos a um risco 1,5 vez maior de tumores intestinais antes dos 50 anos, independentemente do peso corporal.

A exposição a microplásticos e produtos químicos industriais também preocupa. Fragmentos de plástico foram encontrados na placenta, no sangue e até no cérebro humano, funcionando como “esponjas” que acumulam toxinas e provocam inflamação crônica — um mecanismo conhecido de desenvolvimento tumoral. Um levantamento da Universidade de Sydney, publicado em 2024, relacionou essas substâncias a danos no DNA e ao aumento de cânceres nos sistemas digestivo e respiratório.
Outro foco de investigação é a quebra do ciclo biológico natural. Pesquisas com animais conduzidas por Katja Lamia e Selma Masri, nos EUA, indicam que a privação de sono e o “jet lag crônico” aumentam em até 68% o número de tumores. Em humanos, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer já classificou o trabalho noturno como “provável carcinógeno” desde 2007, por afetar a produção de melatonina e os mecanismos de reparo celular.
Embora ainda faltem conclusões definitivas, a ciência avança para identificar os principais culpados. “Estamos apenas começando a compreender toda a complexidade química da vida moderna”, diz Patti. Com mais de 100 mil substâncias sintéticas em circulação e apenas 4% devidamente testadas quanto ao risco de câncer, os cientistas defendem uma abordagem preventiva: mapear o histórico químico de cada pessoa no sangue para antecipar o surgimento da doença.