
Candidatos do PDT têm ignorado o nome de Ciro Gomes nas redes sociais, com destaque para aqueles que disputam vagas no Congresso ou o governo de estados no Norte e no Nordeste.
A apuração é da Folha e foi feita nos perfis no Instagram e no Facebook dos candidatos do partido nas 27 unidades federativas do início oficial da campanha, em 16 de agosto, até o início deste mês.
Um dos casos mais emblemáticos é o do Maranhão, onde o favorito nas pesquisas, o senador Weverton (PDT), ignora Ciro em suas postagens. No dia 24 de agosto, Weverton postou um vídeo no qual aparece de mãos dadas com o ex-presidente Lula (PT), um dos principais alvos de críticas e adversários de Ciro.
Nas candidaturas à Câmara dos Deputados, não há menção ao presidenciável ou às suas propostas. Os candidatos preferem se associar a Weverton ou ao senador Roberto Rocha.
O senador por sua vez afirmou à Folha já ter dito que o candidato do PDT é Ciro Gomes: “O PDT do Maranhão tem feito movimentação em favor do Ciro. Mas meu foco é encontrar soluções para o meu estado, que sofre com a falta de emprego e baixos indicadores sociais”.
“Não me apego a padrinhos políticos, mas ao diálogo com todas as bases sociais que querem virar a chave para um novo momento de desenvolvimento no Maranhão. E na minha base há partidos e movimentos sociais que apoiam outros candidatos a presidentes e eles farão o palanque para os candidatos deles”, declarou.
Ainda no Ceará, base política de Ciro, o candidato tem resistência, devido a disputa que se deu para a escolha do nome do partido ao governo do estado. Uma ala defendia o nome da atual vice-governadora, Izolda Cela, que teria apoio do PT. Aliados do presidenciável, porém, optaram por Roberto Cláudio, que acabou escolhido, criando um racha que levou o PT a romper aliança com o PDT no estado.
A divisão levou alguns nomes que concorrem à Câmara dos Deputados a se afastar da candidatura de Ciro. Ianna Brandão, por exemplo, cita Roberto Cláudio em sua campanha, mas desconsidera o candidato ao Planalto.
A escolha da vice de Ciro, Ana Paula Matos, também é sintoma da falta de alianças em nível nacional. A decisão buscou ampliar o apoio ao pedetista na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do Brasil. No estado, a associação dos candidatos à Câmara dos Deputados é majoritariamente com o candidato ao governo, ACM Neto, da União Brasil, e com a própria Ana Paula.
No Norte do país, o PDT montou chapas puras no Amazonas e em Roraima, estados onde Ciro aparece bastante nas redes sociais. Em estados como o Acre, a associação é rara, enquanto no Amapá é inexistente.
No Paraná, a escultora Amanda Gallego começou a divulgar sua pré-campanha a deputada federal em uma rede social em 28 de junho, sem mencionar o candidato do partido à Presidência. A primeira menção a Ciro só é feita em 24 de agosto, um dia após a sabatina no Jornal Nacional e durante visita dele a Curitiba, quando ela postou foto com o candidato e com Ricardo Gomyde, nome do PDT ao governo paranaense.
No Centro-Oeste, o Distrito Federal é um dos palanques mais sólidos do pedetista. A senadora Leila tem chances de ir ao segundo turno contra o atual governador, Ibaneis Rocha (MDB). Ela e a maioria dos nomes à Câmara dos Deputados postam material de campanha, fotos e vídeos com o presidenciável.
Em São Paulo, Ciro tem como palanque a candidatura ao governo do ex-prefeito de Santana de Parnaíba Elvis Cezar, que faz uma associação intensa de seu nome ao do candidato à Presidência, mas que concentra apenas 1% das intenções de voto.
Já em Minas Gerais, o PDT fez aliança com a candidatura de Marcus Pestana (PSDB) ao governo na esperança de obter o apoio dos tucanos em São Paulo, o que não ocorreu. Pestana e Bruno Miranda (PDT), ex-vereador de Belo Horizonte e candidato ao Senado, costumam postar fotos de Ciro em suas redes. A grande maioria dos candidatos a deputado pelo estado, porém, não fala sobre Ciro.
No Rio de Janeiro, o PDT lançou o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves para o governo, em uma aliança com o PSD de Gilberto Kassab. Há uma associação forte dos principais candidatos do estado a Ciro, entre eles o ex-candidato à Presidência Cabo Daciolo, que disputa o Senado.
Quando questionado sobre a falta de apoio, Ciro argumenta que é “um abolicionista em meio a escravistas”, no sentido de que prega mudanças profundas nos modelos políticos e econômicos do país, causando incômodo à maioria dos partidos.