
A cannabis industrial, chamada de “nova soja”, pode movimentar quase R$ 6 bilhões até 2030, segundo o relatório Caminhos Regulatórios para o Cânhamo no Brasil, elaborado pela Embrapa em parceria com o Instituto Ficus. O estudo projeta a criação das primeiras fazendas de cânhamo a partir de 2026, com projetos-piloto, linhas de crédito específicas e, em 2027, a liberação de cultivos em maior escala. A expectativa é que, até 2028, o país comece a exportar matérias-primas e, em 2030, consolide o setor como player global.
A estimativa é que o Brasil alcance R$ 5,76 bilhões de receita líquida com a cannabis até o fim da década, em uma área de 64,1 mil hectares cultivados. Só as sementes, ricas em proteínas e aplicáveis na alimentação humana, poderiam gerar R$ 2,3 bilhões, sendo usadas em pães, barras de cereais e até tofu. Já o caule da planta, aproveitado como fibra, poderia render R$ 3,2 bilhões, com uso nas indústrias têxtil, de papel e até na construção civil, com a fabricação de tijolos sustentáveis.
Para que esse potencial se concretize, o maior desafio é a regulamentação. Hoje, uma portaria da Anvisa de 1998 proíbe o cultivo de cannabis no país. A agência deve alterar essa regra, mas as propostas em discussão limitam o plantio apenas para fins medicinais.
O STJ já determinou que a União e a Anvisa definam regras para o cultivo de cânhamo industrial, e a expectativa é que até o fim de setembro seja publicado um decreto presidencial permitindo o início dos projetos. Para especialistas, esse será o gatilho fundamental para dar início ao plano de ação desenhado pela Embrapa e pelo Instituto Ficus.

Enquanto isso, outros países como EUA, Canadá, França e China já avançam em pesquisas e novas formas de uso da cannabis industrial.
A pesquisadora da Embrapa, Daniela Bittencourt, criticou a demora: “Esses países vão avançando em novas fontes de renda e inovação e, enquanto isso, nós aqui estamos aguardando que a coisa aconteça”.