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Cantanhêde deve explicações a seu público pela citação da empresa do marido na Lava Jato. Por Kiko Nogueira

Eliane e Gilnei Rampazzo (à dir.), da GW Comunicação, em lançamento de livro

A não ser que jornalistas estejam acima da lei, Eliane Cantanhêde, colunista da GloboNews e do Estadão, deve explicações a seu público.

A empresa do marido Gilnei Rampazzo, a GW Comunicação, é citada na Lava Jato pelo delator Benedicto Júnior, o BJ, o mesmo que falou do esquema de Aécio Neves na Cidade Administrativa de Minas Gerais.

Benedicto entregou aos investigadores uma planilha na qual listou as obras no Estado de São Paulo em que houve propina.

Uma delas é a Linha 2 do Metrô, de onde saiu um pagamento para a GW, segundo o executivo.

A Polícia Federal transcreveu uma troca de e-mails entre BJ, Marcelo Odebrecht e Fabio Gandolfo, então diretor da empreiteira em São Paulo.

Ali se acerta o pagamento de R$ 2 milhões relacionados à obra da linha 2. “Segue programação L2 para o fim do mês – comunicação=GW – careca=amigo PN – I=R$ 2.000.000,00”.

Em 2004, Luiz Gonzalez, sócio de Rampazzo, foi o marqueteiro da campanha de Serra à prefeitura de SP.

Renato Rovai, da Revista Fórum, escreveu o seguinte: “A GW fez praticamente todas as campanhas para governo do Estado, Prefeitura e mesmo para presidência da República. Depois, com outra empresa, a Lua Branca, seus sócios operavam a conta publicitária desses governos. Isso por si só já era de certa forma um escândalo, mas ninguém falava nada.”

Em 2013, Gilnei fez uma retirada de R$ 2.140.444,00 (dois milhões, cento e quarenta mil e quatrocentos e quarenta e quatro reais), registrada no Diário Oficial.

Trata-se de redução de capital da empresa. Legal? Sim, mas pouco ortodoxo. Reduz-se, desta maneira, as responsabilidades societárias e jurídicas.

Na prestação de contas da campanha de Aécio em 2014, há uma emissão de passagem aérea para Gilnei, que você pode ver abaixo.

Eliane, obviamente, não responde pelos eventuais malfeitos do marido. Desnecessário reforçar que tudo deve ser apurado.

Mas ela fica numa situação, no mínimo, complicada. Boa parte das contas do casal foi paga pela Odebrecht? Como uma jornalista experiente e tão implacável com a ética e a moral, sobretudo e quase que exclusivamente as dos governos petistas, não percebeu?

O Estadão omitiu o nome de Gilnei na reportagem sobre o caso. Faz sentido? É honesto com o leitorado?

(O Brasil é o paraíso da normalidade das relações promíscuas de jornalistas com os tucanos. Merval Pereira e FCH, mais Serra seus colegas graduados — como fica agora? Ninguém notou nada? O enriquecimento desse pessoal não chamou a atenção?)

Numa entrevista ao Correio do Estado, Eliane lembrou que “a função da imprensa é vasculhar e mostrar os podres. Seria muito mais fácil ficar amiguinha, deixar pra lá e não incomodar, mas não virei jornalista pra isso e não é assim que se constrói um país e um futuro melhor”. 

Tem que começar em casa, como dizia o Marquês de Paranaguá.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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