
A principal organização indígena do Equador, a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), culpa as políticas neoliberais adotadas no país como a raiz da atual crise de segurança.
Em nota, a organização diz que a crise é resultado de um problema estrutural, “originado pela radicalização de políticas neoliberais que têm destruído o Estado e suas instituições, deixando-as sem capacidade de resposta”.
O diagnóstico é preciso. O Equador é um laboratório neoliberal, com um presidente sem controle da situação, privatista, e que agora decidiu tomar medidas de fechamento do regime para conter uma onda de criminalidade criada por ele mesmo e seu antecessor, o corrupto Guilheme Lasso.
Grupos do crime organizado ligados ao tráfico de drogas têm provocado uma onda de sequestros e explosões no país desde terça-feira. Após a fuga de um presídio de Fito, líder de uma das quadrilhas que atuam no país, tem ocorrido o sequestro de civis e policiais. Um telejornal chegou a ser invadido por criminosos enquanto estava no ar.
Em resposta, o presidente equatoriano Daniel Noboa, filho de um dos homens mais ricos do país, decretou Estado de Emergência com toque de recolher, convocando as Forças Armadas para atuar contra os grupos criminosos.
“Essas políticas também têm gerado mais desigualdade e pobreza, criando condições sociais propícias para o recrutamento de jovens por parte do crime”, afirma a Conaie, organização que liderou os últimos levantes populares contra medidas dos governos de Lenín Moreno, em 2019, e Guilherme Lasso, em 2022.
Alguns mercados no Equador oferecem bebidas e alimentos gratuitos para as forças armadas. Os cidadãos os aplaudem e demonstram o máximo respeito pelos policiais. pic.twitter.com/QCncJo2KBq
— MSP-Brasil (@mspbra) January 10, 2024
A confederação, fundada em 1986, reúne 53 organizações de base indígena, que somam 18 povos de 15 nacionalidades originárias do Equador.
“Esses governos priorizaram suas agendas particulares para favorecer os grandes grupos econômicos, à custa da pobreza e do sofrimento da maioria da população”, destaca a entidade.
“No Equador, houve uma absurda privatização da segurança pública, talvez o mais alto índice de toda América Latina: o país tem mais de 125 mil homens armados em segurança privada, o dobro dos policiais”, diz Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais.
Os criminosos têm se aproveitado da permissividade de autoridades nos últimos anos, “se infiltrando na maioria das entidades estatais e debilitando a institucionalidade encarregada da segurança pública. Usam a estratégia de medo e caos para intimidar e submeter a população, que não recebe as garantias adequadas por parte de um Estado falido e reduzido.
🚨🇪🇨 Equador entra em Semi-Guerra contra os Narcotraficantes!
⚠️Os Polícias estão a ser Executados e Enforcadospic.twitter.com/xQt4iKLzVJ
— 𝙂𝙤𝙣𝙘̧𝙖𝙡𝙤 𝙍𝙖𝙢𝙤𝙨 (@OGoncaloRamos) January 10, 2024
A Conaie faz ainda um chamado para que a população se mantenha ativa em guardas comunitárias, controlando o acesso a seus territórios. A organização acrescenta que é necessário construir a unidade nacional, com todos os setores da sociedade, que permita superar a atual crise.
“Além disso, exortamos o governo e a Assembleia Nacional a não usar a crise como desculpa para aprovar leis ou políticas antipopulares, que afetem a maioria da população, já que isso só agravará a situação e provocará uma reação popular em defesa dos direitos, em uma conjuntura que não foi provocada pelos povos, mas pelos governos falidos”, afirma o comunicado oficial.