O debate entre Donald Trump e Joe Biden foi uma versão piorada do Barraco do Leblon, em que só há culpados e nenhum inocente.
Ninguém sabe mais sobre os dois contendores agora do que antes.
Na verdade, sabe-se menos ainda, a não ser o fato de que o senhor cor de laranja não obedece regras e seu adversário é gago.
O suposto moderador, Chris Wallace, mostrou rapidamente sua inutilidade.
A estratégia de Donald Trump — interromper, gritar, insultar e perturbar o andamento do programa — foi plenamente bem sucedida por causa da inoperância de Wallace.
Ele autorizou o presidente dos EUA a se comportar como um adolescente disfuncional.
Se foi pego de surpresa no início, deveria ter reagido ao longo do tempo. Não o fez.
Desligar o microfone do sujeito já seria alguma coisa. Nem isso.
Há maneiras de os supostos responsáveis por um evento demonstrarem que estão no comando, sem apelar para a grosseria.
Wallace deixou claro que foi a escolha errada e o desastre que se viu foi consequência disso.
Trump simplesmente não leva a sério regulamentos e contou com um “juiz” incompetente.
O insosso Biden, por seu turno, mordia as iscas e acabava respondendo os cacos que Trump enfiava em suas falas.
É difícil crer que aquela balbúrdia mudou algum voto ou que alguém foi convencido a sair de casa em nome de qualquer um dos dois.
Quem é fã de Trump está comemorando sua “coragem” e “iniciativa”.
Quem não gosta dele passou a gostar menos. Eu passei a ter vontade de vomitar ao vê-lo — mas eu e você não votamos nos EUA.
Biden é um dos candidatos menos carismáticos jamais vistos na TV.
Sabendo que estava diante de um velho valentão, não se preparou.
Mandou Trump calar a boca e, por um momento, parecia ter a energia necessária para lidar com o escroto. Ledo engano.
Se deixou atalhar e não reagiu à altura nem quando o sujeito chamou seu filho de drogado.
Não soube usar as revelações do New York Times de que Trump não paga impostos.
Assim como fez com a democracia americana, Trump pegou o debate e subverteu-o.
Mostrou que, sem alguém rigoroso para freá-lo, aquilo é facilmente transformado numa luta na lama em que ele se sairá melhor.
Sempre haverá um Chris Wallace para fingir que se importa com o macaco que joga fezes na plateia.
A única lição aprendida é que não se deve perder tempo com isso. O barraco do Leblon é mais divertido.