PUBLICADO NO BRASIL DE FATO
POR CLÍVIA MESQUITA
O golpe civil-militar na Bolívia reacendeu o debate sobre política e fundamentalismo religioso na América Latina. “A bíblia volta ao Palácio”, declarou a senadora boliviana Jeanine Áñez, empunhando o livro. A parlamentar opositora que se autoproclamou presidente atropelou o rito constitucional do país ao assumir o cargo.
O uso político da fé para legitimar governos de extrema direita e suas práticas violentas também tem sido motivo de preocupação no Brasil, sobretudo após a eleição de Jair Bolsonaro. Dentre as diversas imagens do golpe na Bolívia que tem chocado o mundo, chamou atenção a de Fernando Camacho, líder da oposição, depositando uma bíblia em cima da bandeira boliviana.
Organizações cristãs têm se manifestado contra o uso da religião e o nome de Deus em golpes e governos radicais. Para Rafael Soares de Oliveira, membro da coordenação do Fórum Ecumênico ACT Brasil, o movimento fundamentalista é constituído por um núcleo de pessoas que tenta impor ideias a partir de crenças para defender um projeto de poder.
“No caso Boliviano, o que se alimentou a médio prazo foi o processo fundamentalista de negação do que estava sendo feito por Evo Morales como a inclusão indígena e o reconhecimento de que toda expressão de fé é legítima. Fé e política não deveriam se misturar, mas tem sido uma tônica na história recente da América Latina. Um problema grave que assola diversos países do mundo com o crescimento do fundamentalismo pautado pelos cristãos”, disse em entrevista ao Programa Brasil de Fato RJ.
Brasil
O avanço do fundamentalismo religioso também é pautado pelo medo. Segundo o religioso, que também é diretor de Koinonia, o argumento de que existe uma “ameaça à família tradicional”, mensagem que foi amplamente difundida no Brasil durante as eleições, é “uma mentira” e serve como ferramenta de convencimento contra grupos sociais.
“Existe uma bancada cristã no Brasil que se move quando se trata de valores anti feministas e anti LBGT. É possível chegar a uma afirmação diferente de fé na nossa sociedade. Podemos estar juntos num projeto de resistência, nós pessoas de fé devemos defender a democracia. Na afirmação de uma paz que se paute pela justiça”, completa.
*Entrevista: Denise Viola
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