Cardozo repetiu, como AGU, o desempenho como ministro: 7 a 1 todo dia. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 12 de maio de 2016 às 11:11
As últimas palavras da defesa no Senado
As últimas palavras da defesa no Senado

 

Consumado o golpe, não mais se ouvirá como antes a voz de José Eduardo Martins Cardozo. No Senado, em suas últimas palavras, reiterou que o impedimento transforma Brasil na “maior república das bananas do planeta”.

“No presidencialismo se exigem pressupostos jurídicos que permitam que um governo legitimamente eleito tenha seu mandato extinto. Somente quando os pressupostos se configuram é que se pode afirmar o juízo político acerca da conveniência e ou da inconveniência da permanência do chefe do Executivo”, disse.

Nada disso é culpe dele, obviamente. Mas Cardozo foi uma nulidade. Ele é daqueles casos inexplicáveis em que um sujeito tem um desempenho medíocre numa função e, ao invés de ser demitido, é promovido a outra tão importante quanto.

Como ministro da Justiça, presidiu a era do republicanismo lelé. Em cinco anos, pouca gente descobriu o que ele fazia, inclusive o próprio. A Polícia Federal deitou e rolou. Ele foi desafiado, desmoralizado, desautorizado. Sequer reclamou publicamente, como fez seu substituto Aragão. Quando a coisa apertava, dava entrevista para a Veja sobre outros assuntos.

Homem de confiança absoluta de Dilma, foi premiado com a Advocacia Geral da União. Eu mesmo confesso que, num primeiro momento, me impressionei com a eloquência, o suposto preparo etc. Podia ser a redenção dele. Encontrara seu lugar.

Mas cheguei, numa conversa com meu sobrinho Jônatas, à conclusão óbvia: advogado bom é advogado que ganha. É mais ou menos como os atacantes “tecnicamente excelentes” do Casagrande. Batem com a direita e a esquerda, cabeceiam, preparo físico invejável, inteligentes ainda por cima — e não fazem um mísero gol.

Tudo estava contra. A orquestra do STF estava afinada. Etc etc. Cardozo, porém, não emplacou uma. 7 a 1 todo dia.

E, se no ministério não deu, o que se poderia esperar dele como articulador político? Juntamente com Flávio Dino, governador do Maranhão, ele municiou Waldir Maranhão de argumentos para que ele anulasse a sessão do impeachment na Câmara. Absolutamente legítimo, aliás.

Maranhão anulou a votação — e acabou recuando em menos de 12 horas. “Ele sofreu ameaça de expulsão do partido e de cassação sumária apenas porque tomou uma decisão compatível com as prerrogativas do cargo que exerce”, reclamou Cardozo a posteriori.

Ora, que surpresa. Então Cardozo convenceu Waldir Maranhão, mas esqueceu de avisar o que poderia acontecer? Ou prometeu que tudo seria beleza pura? Ou, ainda, prometeu o que não podia dar?

O que vai ser do Brasil de Temer daqui para a frente é uma incógnita feia. Mas desejo fortemente que você e os seus, em necessidade, não dependam dos serviços de José Eduardo Cardozo.

Na ótima série “Better Call Saul”, o protagonista conta uma série de piadas para irritar o irmão, um famoso causídico. Uma delas é muito boa.

— Se você vê um advogado numa bicicleta, por que não deve atropelá-lo?

— Porque pode ser a sua bicicleta.