
Pouco conhecida do público brasileiro até poucos anos atrás, a carinata começa a ganhar espaço no campo e a despertar o interesse de produtores e empresas ligadas à transição energética. A oleaginosa, da mesma família da canola, teve cerca de 10 mil hectares cultivados no Brasil em 2024. Em 2025, a área triplicou para 30 mil hectares e a expectativa é chegar a 50 mil em 2026, com avanço concentrado principalmente no Rio Grande do Sul e em Goiás.
O impulso vem da demanda global por biocombustíveis, em especial o combustível sustentável de aviação (SAF), que utiliza o óleo da carinata como matéria-prima. A planta integra o grupo das chamadas culturas emergentes, ao lado de sorgo, gergelim, lúpulo e canola, que vêm sendo incorporadas à segunda safra brasileira como alternativa de renda e diversificação.
A segunda safra, plantada geralmente em março e colhida entre junho e julho após a soja e o milho, é considerada um dos maiores diferenciais da agricultura nacional. O Brasil conta com cerca de 80 milhões de hectares cultiváveis porque produz ao longo de todo o ano, ao contrário de países do Hemisfério Norte, que ficam parados no inverno. Esse modelo permite utilizar a mesma área mais de uma vez sem necessidade de abertura de novas fronteiras agrícolas.
“O uso da segunda safra permite ao agricultor plantar novas culturas, diversificando sua produção, buscando novas fontes de receita e fazendo rotação no solo. A segunda safra é uma nova fronteira agrícola, sem a necessidade de desmatar para aumentar a produção”, explicou Bruno Laviola, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Energia, em entrevista ao Globo.

Segundo a Conab, a soja ocupou 47 milhões de hectares na safra 2024/2025 e deve chegar a 49 milhões em 2025/2026. O milho de primeira safra soma cerca de 4 milhões de hectares. Isso abre espaço para mais de 50 milhões de hectares disponíveis para o plantio de culturas emergentes na sequência.
O produtor Jonis Santo Assmann, que cultiva soja e milho em Mato Grosso do Sul, decidiu apostar na carinata após conhecer a cultura fora do país. Este ano, ele plantou 700 hectares.
“Conheci a carinata numa viagem à Argentina. Me interessei e plantei este ano. Numa área colhi 25 sacas por hectare, em outra, 12 sacas. Em 2026, vou plantar novamente em março. É uma alternativa de receita”, contou.
A Nufarm, empresa global de origem australiana, lidera a introdução da carinata no Brasil. Segundo Philipp Herbst Minarelli, gerente de canola e carinata da companhia para Brasil e Paraguai, a cultura se beneficiou do melhoramento genético desenvolvido para a canola.
“Há 12 anos, começamos a fazer testes na Argentina e no Uruguai. A partir de 2021, no Brasil e Paraguai. No Brasil, vimos a produtividade aumentar conforme a cultura avançava para dentro do país”, afirmou.
Neste primeiro ciclo comercial, 129 produtores cultivaram 30 mil hectares. Em alguns casos, a produtividade chegou a 44 sacas por hectare. A empresa compra toda a produção para extração do óleo e já estuda instalar uma usina no país.
“Não queremos que o Brasil seja só exportador de commodities, mas um exportador de produto já acabado”, disse Herbst.
Outras culturas também avançam. O sorgo, resistente a clima seco, ganha espaço tanto para ração quanto para etanol. O gergelim já ocupa cerca de 600 mil hectares e tem forte demanda externa. A canola cresce no Cerrado, enquanto o lúpulo ainda busca escala, apesar de o Brasil importar 99% do que consome.
Para Luciane Chiodi Bachion, pesquisadora da Agroicone, essas culturas são estratégicas na transição energética. “E estão crescendo as culturas emergentes, de carinata, canola e da macaúba. O Brasil tem muito potencial para produção de biocombustíveis”.