“Dizem que a Mangueira, escola de samba campeã do carnaval e que homenageou Marielle, tem o presidente preso, envolvimento com tráfico, bicheiros e milícias. Esse país está de cabeça pra baixo mesmo”.
Carlos Bolsonaro, o filho hiperativo do presidente, não perde uma oportunidade de causar confusão para o governo do pai.
Num dia em que Jair foi achincalhado mundo afora, e que o próprio tentou apaziguar as coisas, por meio de uma nota pública em que diz que sua intenção não era “criticar o carnaval” ao divulgar um vídeo obsceno, o 02 volta à carga no Twitter comprando briga com a Verde e Rosa.
Não que Carluxo não tenha razão nas informações que publicou, afinal até a freira do convento Perpétuo Socorro do Rio está careca de saber que a administração do samba em geral, e do Rio em particular, não é o melhor lugar para moças de família e cidadãos de bem.
O que chama a atenção é Carlos atacar a Mangueira com acusações que conhece bem, e que envolvem o próprio irmão, Flávio Bolsonaro.
Três semanas atrás a Receita Federal anunciou que estava ampliando a cooperação com o MP do Rio de Janeiro para investigar os envolvidos na Operação Os Intocáveis, que foca a atuação de milícias no Estado.
Entre os alvos está o ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como líder de um grupo criminoso conhecido como Escritório do Crime.
A mãe e a mulher de Nóbrega trabalhavam no gabinete que o hoje senador Flávio ocupava na Assembleia Legislativa do Estado.
Os investigadores analisavam as movimentações financeiras dos citados no relatório do Conselho de Controle de Atividade Financeira (Coaf) que apontou transações atípicas na conta de Fabrício Queiroz, o famoso ex-assessor de Flávio.
Cinco suspeitos de integrar uma milícia que atua em Rio das Pedras, na Barra da Tijuca, foram presos – Nóbrega continua foragido.
O bando atuava na grilagem de terras, na compra, venda e aluguel irregular de imóveis, na cobrança de taxas da população local e na receptação de mercadoria roubada, entre outros crimes.
Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, mulher do ex-capitão foragido, trabalhou com Flávio Bolsonaro na Alerj por 11 anos, entre 2007 e 2018.
Raimunda Veras Magalhães, mãe do miliciano, bateu ponto no mesmo gabinete de maio de 2016 a novembro do ano passado.
No momento em que brigava de foice com Gustavo Bebianno, o ex-secretário Geral da Presidência que, fritado em público, ameaçava pôr a boca no trombone, o próprio Carlos realizou uma operação de emergência, exonerando nove assessores de seu gabinete na Câmara de Vereadores do Rio. Tudo isso numa única canetada.
Ganha um tricô da Liga das Senhoras de Santana quem acreditar que a exoneração se tratou de um ato administrativo para melhorar o desempenho do mandato em favor dos moradores da capital fluminense.
Carlos deu linha porque sabe que os nomeados estavam em situação irregular e Bebianno sabia. Como sabe que Flávio, Jair, Eduardo e cia têm relação com milícias e envolvimento em ilícitos a perder de vista.
Mas o problema é a Mangueira, que num desfile tocante conquistou o coração do público e dos juízes contando a história dos heróis esquecidos, entre eles Marielle Franco, assassinada provavelmente pelo bando de Rio das Pedras a se considerar as suspeitas das investigações em curso.
Talvez seja mesmo um clichê, mas ao escrever contra a campeã do carnaval carioca o filho do presidente reedita aquela máxima do batedor de carteira que rouba e sai gritando “pega ladrão”.
Por isso Carlos anda tão desprestigiado em Brasília. Da base governista à ala militar todo mundo quer distância dele.
Os destemperos de Bolsonaro estão levando muitos a acreditar que o problema ali passou da esfera administrativa para a da saúde mental. Por essa tese, o presidente não seria apto para o exercício da função.
É uma suposição, por enquanto.
Com relação ao filho, porém, não há dúvida a ser suprimida: Carlos é sim um caso severo de transtorno psiquiátrico.
Como o próprio diz em seu tuíte, “esse país está de cabeça pra baixo mesmo”.