Carnaval nas eleições: Dallagnol lança o bloco “Unidos Contra a Corrupção”. Por Miguel Enriquez

Atualizado em 2 de agosto de 2018 às 16:22
Dallagnol em culto

POR MIGUEL ENRIQUEZ

Nas pegadas do juiz Sergio Moro, que há pouco mais de uma semana manifestou sua preocupação de que o resultado das próximas eleições favoreça o risco de retrocesso no combate à corrupção, seu parça de todas as horas, o procurador da República Deltan Dallagnol reforça a cruzada alarmista e de auto-defesa do time da Lava Jato.

Em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan, nesta quinta feira, 2, Dallagnol  anunciou o lançamento do movimento, cujo nome lembra um bloco de Carnaval, o Unidos Contra a Corrupção, que visa instalar no Congresso uma bancada de cidadãos de bem, comprometidos com as boas práticas e a honestidade no tratamento da coisa pública. 

Segundo o chefe da força tarefa da Lava Jato, trata-se de um movimento suprapartidário. A pessoa pode escolher o partido de sua preferência, apoiando candidatos que preencham três requisitos: passado limpo, compromisso com a democracia e apoio a um pacote de 70 medidas anticorrupção, patrocinado pelo movimento. 

“Pessoas podem não ser anjos, mas serão comprometidas com esses pontos”, disse sobre aqueles que, de certa forma, merecem o apoio do eleitor, reconhecendo que – afinal, varões de Plutarco são mercadorias escassas no País. “Se conseguirmos colocar 50% de congressistas comprometidos, vamos ter grande perspectiva de mudanças.”

Assim como Moro, Dallagnol está preocupado mesmo é com o Day After das eleições deste ano. Seu temor é de que os parlamentares atuais, principalmente os que não se reelegerem, resolvam chutar o balde e acabem aprovando medidas, que em seu entender, venham a comprometer o futuro da Lava Jato, como a lei contra o abuso de autoridade. 

Sua referência, ainda a exemplo de Moro, para justificar esse temor, é a operação Mãos Limpas, na Itália, cujos efeitos acabaram sendo neutralizados pela chamada classe política, passado o ímpeto do furor punitivista na sociedade italiana.

“Logo que abaixou a poeira, foram aprovadas leis para gerar impunidade, indultar crimes, e é o que pode ocorrer após as eleições”, afirmou. “É o período mais crítico da história da Lava Jato. Essa é a grande preocupação que nós temos.”

Durante a entrevista, Dallagnol aproveitou para fazer um comercial da Lava Jato, num balanço de suas conquistas. Nos quatro anos da de atividade da Operação, foram presas 300 pessoas, das quais 130 foram condenadas a penas que totalizam 1 900 anos de cadeia.

E, aleluia, a Lava Jato deu lucro. De acordo com ele, a já está compromissada nos acordos com as empresas e pessoas físicas envolvidas nas investigações, a recuperação de R$ 12 bilhões, ou seja, 30% a mais do que a Petrobras teria efetivamente perdido por conta da corrupção. ”É um recorde mundial”, comemora.

Não faltou na entrevista uma avaliação dos supostos adversários e dos aliados da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Sem citar nominalmente, mas aceitando a definição de um dos entrevistadores, de que os ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, como a “Tríade do Mal”, Dallagnol criticou-os por suas ações, que ajudariam a preservar o pacto das elites econômicas e políticas, do capitalismo de compadrio no Brasil.

Entre os amigões dos lavajatistas, não faltaram, evidentemente, elogios aos torquemadas do STF, os ministros Edson Fachin e Luís Roberto Barroso.