Caro Jean, o Congresso não é lugar para homens dignos. Por Leo Mendes

Atualizado em 15 de dezembro de 2016 às 7:09

camara impeachment

 

É lugar de jagunços, capatazes, tristes coronéis sem alma, apenas apetites.

De estelionatários descrentes, que carregam a Bíblia como uma arma para assaltar os mais necessitados.

De lobistas diversos, latifundiários, descendentes de herdeiros de capitanias hereditárias.

De torturadores, milicianos, comandantes de grupos de extermínio.

De racistas, machistas, misóginos, LGBTfóbicos, representantes do macho branco das cavernas em geral.

É lugar de privilegiados, cuja luta é para impedir qualquer mudança, ou pelo retrocesso do pouco que foi alcançado pelo povo com muita luta.

Lugar que se pode comprar uma cadeira, e quase todas já estão vendidas desde sempre.

Há as cadeiras perpétuas, que estão há muitas gerações na mesma família, mas a maioria pertence a empresas.

Ao agronegócio, à FIESP, aos planos de saúde. O que vemos trocar de quatro em quatro anos são apenas avatares, criaturas-sombra das agendas representadas.

Tu chegaste lá como um intruso desagradável, e assim permaneceste pela vontade de mais de 100.000 eleitores que te ofereceram essa cadeira, que não poderias comprar.

Não poderias porque não te vendes, és um homem digno, mas o Congresso não é lugar para homens dignos. É isso o que o Conselho de Ética tenta te dizer ao querer suspender o teu mandato.

De certa forma seria surpreendente não tentarem te cassar, não fossem também covardes.

Eles tem medo das ruas, e tu és das ruas, da verdadeira casa do povo.

E o povo te quer no Congresso.

Não para vencê-los em número, aprovar a decência por maiorias absolutas, nada disso, não somos tão ingênuos.

Estás lá é para que eles escutem que sabemos quem eles são, que já foram descobertos, e há luta e resistência nas ruas, nas redes, em todos os lugares que pertencem ao povo.

Estás lá para escarrar na cara deles, em nome de todos nós.

Podem até conseguir te suspender, mas jamais conseguirão nos calar.