Carta aberta ao prefeito João Doria. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 26 de abril de 2017 às 8:48
João Doria

Caro prefeito João Doria,

Descontada a ironia de seu post no Twitter em que agradece ao DCM pela correção de um erro de português cometido pelo senhor, eu vejo como uma boa a sua iniciativa de tornar público que é nosso leitor.

Eu também acompanho o que o senhor publica nas redes sociais.

Dever de ofício, mas também uma maneira de, como morador, saber o que o senhor faz e também como quer que o vejamos como prefeito.

Confesso que, como morador, não estou satisfeito com sua atuação, pois não vi nada de extraordinário que tenha feito.

O senhor se apresenta como gestor, mas o que o senhor mais faz é política.

Politizou até o plantio de uma árvore, ao insultar um ex-presidente da república.

Pareceu-me que sua intenção foi polarizar com quem pode ser seu adversário numa disputa eleitoral para presidente.

O senhor não completou nem quatro meses de gestão e já pensa em Brasília.

Não me parece à altura de um gestor, que deveria estar focado nos interesses e nos problemas da cidade de São Paulo.

Estranhamente, porém, nada disso merece cobertura mais aprofundada da imprensa.

Por isso, como o senhor sabe – pois é nosso leitor –, estamos realizando reportagens para apresentá-lo ao público.

O senhor, embora formado em jornalismo, tem um histórico de relações difíceis com jornalistas que lhe são críticos.

Nos seus dois anos e pouco de gestão na Embratur, processou três jornalistas – um deles, Cléber Praxedes, na época no Jornal do Brasil, foi quem noticiou as irregularidades que evidenciavam a má gestão da empresa – má gestão, para dizer o mínimo.

O senhor também processou o colunista Ibrahim Sued e um jornalista responsável por uma publicação especializada em turismo.

Já como prefeito, se irritou com perguntas de jornalistas do Valor sobre as doações que a prefeitura tem recebido de empresários – o senhor sabe que, na Embratur, misturar o público e o privado não deu certo e, no entanto, parece repetir a experiência em São Paulo.

Prefeito Doria, na sua recente entrevista às jornalistas da Revista Poder, o senhor sugeriu como elas deveriam iniciar a reportagem, enaltecendo as características que o senhor se atribui como prefeito – zelador e síndico.

Prefeito, formado em jornalismo, o senhor deveria saber que isso não se faz, mas parece que sua visão do nosso ofício é diferente.

O senhor talvez considere que o papel de um jornalista é elogiar.

Será que é por isso que o senhor, na direção do Lide, dava tantos presentes aos jornalistas que cobriam os encontros em Comandatuba?

Para jornalistas sérios, prefeito, jabá não pega bem. 

Conheço um diretor de redação que mandou um jornalista presenteado devolver os mimos – caros, segundo ele me disse.

Poderia me aprofundar sobre como o senhor transformou um programa de entrevistas na TV numa forma de alavancar sua empresa, com patrocínio de entrevistados a quem o senhor fazia elogios públicos.

Mas, para não o cansar nem aos leitores, já que esta carta é pública, vamos ao que me motivou escrevê-la:

Solicitei à sua assessoria de imprensa entrevista para a série de reportagens que estou fazendo.

Como fui orientado, enviei um e-mail e até agora, quase um mês depois, ainda não obtive resposta.

Aviso que não é bajulação que pretendo fazer, mas questionamentos pertinentes sobre suas ideias, planos e análise de resultados.

Em resumo, quero fazer as perguntas que respondam às questões essenciais:

Quem é João Doria? O que pensa? Como chegou à prefeitura? Como explica as contradições?

Também é necessário ouvi-lo sobre críticas e até denúncias.

Que tal, prefeito, deixar esse diálogo indireto, em que o senhor nos agradece, com ironia, por apontar a sua agressão ao idioma – talvez este seja o menor dos erros – e realizarmos a entrevista?

Aguardo sua resposta, diretamente ou através de sua assessoria.

Respeitosamente

Joaquim de Carvalho