Carta ao Povo de Deus, divulgada por bispos, tem adesão de lideranças de outras religiões e motiva ato ecumênico

Atualizado em 5 de agosto de 2020 às 22:35
Em 1976, um ato ecumênico disse não à ditadura, depois do assassinato de Herzog.Foto: Memórias da Ditadura

A mensagem do Projeto Brasil Nação, em apoio à “Carta ao Povo de Deus”, documento de mais de 150 bispos brasileiros, ganhou a assinatura de Chico Buarque, Caetano Veloso, Raduan Nassar, Wagner Moura, Milton Hatoum, entre outras personalidades.

Teve adesão também de lideranças de outras religiões e, por isso, motivou a realização de um ato ecumênico, como nos momentos mais agudos da história do Brasil.

No dia 8 de outubro de 1976, no ato multirreligioso mais marcante da história, Dom Paulo Evaristo Arns recebeu na Sé o rabino Henry Sobel e o reverendo James Wright, entre religiosos de outras denominações.

Mais de 8 mil pessoas se concentraram na praça em frente à Catedral. A ditadura, que teve início em 1964, recebeu naquele dia a sua mais dura reprovação.

O protesto foi contra o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, no DOI-CODI, pelo aparelho de tortura que existia nos porões da ditadura.

O Brasil também vive hoje tempos difíceis, com violência policial crescente, setores do sistema de justiça parciais e a ineficiência e descaso do governo federal em relação à pandemia do coronavírus.

Por razões de saúde pública, o ato ecumênico será virtual desta vez. Ocorrerá no próximo domingo, 9 de agosto, às 11 horas, com transmissão pela TVT e redes sociais. O DCM também fará a transmissão.

O texto dos bispos aponta os descalabros produzidos pelo governo Bolsonaro, que impõe ao país milhares de mortes na pandemia, ataques à democracia, desagregação social, desastre ambiental, uma “economia que mata”. Para o Projeto Brasil Nação, movimento suprapartidário que reúne intelectuais e artistas de diferentes matizes políticos, Bolsonaro age para destruir o Brasil e subordiná-lo aos interesses estrangeiros, colocando a Nação como vassala dos Estados Unidos.

“Roendo as instituições, desprezando a população e aniquilando pequenas empresas, o governo se transforma em inimigo da vida, da saúde, da democracia, da soberania, da diplomacia, de direitos, da ética, da educação, da cultura, do desenvolvimento com justiça, igualdade e paz”, afirma a declaração de apoio.

A ação de solidariedade, endossada por Fábio Konder Comparato, Margarida Genevois, Paulo Sérgio Pinheiro, Monja Coen, João Pedro Stedile, Fernando Morais, Tata Amaral, Juca Kfouri, Silvio Almeida, Maria Victoria Benevides, Renato Janine Ribeiro, Silvio Tendler, entre muitos outros, está recebendo apoios de diferentes denominações religiosas. Em resposta à mensagem do Projeto Brasil Nação, o cardeal dom Claudio Hummes escreveu: “A sociedade civil organizada, quando se une, tem força. Obrigado. Deus abençoe a todos e todas vocês!”.

O ato ecumênico de domingo, às 11h, reunirá representantes de várias religiões e será comandado por Juca Kfouri e Rosane Borges. Luiz Carlos Bresser-Pereira e Celso Amorim, que lideram o Projeto Brasil Nação, estarão presentes.
A manifestação está aberta a adesões em http://chng.it/McwLGkwN

Aqui o documento de apoio aos bispos e as assinaturas iniciais.

PROJETO BRASIL NAÇÃO APOIA ‘CARTA AO POVO DE DEUS’
O Projeto Brasil Nação apoia e se solidariza com a “Carta ao Povo de Deus”, assinada por mais de 150 de bispos brasileiros. O texto aponta os descalabros produzidos pelo governo Bolsonaro, que impõe ao país milhares de mortes na pandemia, ataques à democracia, desagregação social, desastre ambiental, uma “economia que mata”.
De forma deliberada, Bolsonaro age para destruir o Brasil e subordiná-lo aos interesses estrangeiros, colocando a Nação como vassala dos Estados Unidos. Roendo as instituições, desprezando a população e aniquilando pequenas empresas, o governo se transforma em inimigo da vida, da saúde, da democracia, da soberania, da diplomacia, de direitos, da ética, da educação, da cultura, do desenvolvimento com justiça, igualdade e paz.
Como reforça o documento dos bispos, “o momento é de unidade no respeito à pluralidade!”. Seus signatários propõem “um amplo diálogo nacional que envolva humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais, homens e mulheres de boa vontade”.
O Projeto Brasil Nação, movimento suprapartidário que reúne intelectuais, artistas, cidadãos de diferentes visões políticas, apoia essa ideia e se soma a esse chamamento. É preciso, como afirmam os religiosos, despertar “do sono que nos imobiliza e nos faz meros espectadores da realidade de milhares de mortes e da violência que nos assolam”.
São Paulo, 31 de julho de 2020