Carta de Léo Pinheiro à Folha confirma: como na ditadura, Lava Jato também tem os seus cachorros. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 4 de julho de 2019 às 8:53
Léo Pinheiro

A palavra de Léo Pinheiro sobre o triplex do Guarujá atribuído a Lula vale tanto quanto a de Fernandinho Beira-Mar tratando do combate ao tráfico de drogas.

Corrupto confesso, ele enviou carta à Folha de S. Paulo em que tenta limpar a barra de Sergio Moro e dos procuradores da Lava Jato coordenados por Deltan Dallagnol.

“Não sou mentiroso nem vítima de coação alguma”, escreveu.

“Meu compromisso com a verdade é irrestrito e total, o que fiz e faço mediante a elucidação dos fatos ilícitos que eu pratiquei ou que eu tenha tomado conhecimento é sempre respaldado com provas suficientes e firmes dos acontecimentos”, acrescentou.

A íntegra da carta pode ser lida aqui.

Léo Pinheiro encaminhou a carta depois que o Intercept, em parceria com a própria Folha, vazou conversas secretas entre procuradores, em que eles falam da falta de credibilidade do ex-presidente da OAS.

Seus advogados negociavam acordo de delação premiada, mas os procuradores rejeitavam os termos apresentados, pela razão de que não incriminava Lula.

A delação dele só começou a ser levada a sério depois que Léo Pinheiro mudou o depoimento e passou a dizer que Lula era proprietário do triplex.

O que Léo Pinheiro não explica na carta enviada à Folha é por que, sendo o apartamento de Lula, o registro estava em nome da OAS, e o imóvel tinha sido dado em garantia de uma operação de crédito junto à Caixa Econômica Federal, que hoje é presidida por seu genro, Pedro Guimarães.

Além disso, se falou a verdade ao Ministério Público Federal, quando mudou seu depoimento, com “provas suficientes”, por que a OAS precisou pagar executivos para combinar delações, conforme relato do ex-executivo da empresa, Adriano Santana Quadros de Andrade?

O relato de Adriano foi apresentado por seus advogados à 31a. Vara do Trabalho da cidade de São Paulo, em outubro de 2018. É cristalino como água filtrada.

Diz Adriano Andrade que foi abandonado pela OAS à própria sorte depois que se recusou a fazer um acerto de depoimento em relação ao que falaria em acordo de delação premiada com a Lava Jato.

Adriano concordava com a delação, mas queria seguir um caminho independente.

Como não fez o acordo com a OAS para acertar o depoimento, foi demitido e ficou sem receber até as verbas decorrentes da rescisão trabalhista. Por essa razão, foi à Justiça.

Segundo conta, outros executivos receberam R$ 6 milhões cada um para contar aos procuradores aquilo que a direção da OAS queria, não necessariamente com base nos fatos.

É um depoimento grave o suficiente para invalidar todas as delações feitas neste pacotão, uma vez que a legislação exige que a delação seja voluntária.

Léo Pinheiro ainda não teve sua delação homologada, mas teve a pena reduzida nos processos em que é réu confesso e incrimina o ex-presidente.

É um delator informal da Lava Jato, e continua prestando serviços àqueles que o colocaram atrás das grades há mais de três anos, o trataram como mentiroso, indigno de crédito, e agora acenam com a possibilidade de que vá para casa, com parte dos recursos que acumulou graças à corrupção.

Ele entregou a mercadoria — a acusação a Lula — e continua a entregá-la, dentro e fora dos autos, como agora nesta carta enviada ao jornal.

Na ditadura, colaboradores que se comportavam assim eram chamados pelos agentes do porão do DOPS de cachorros.

Nesse sentido, Léo Pinheiro não passa de um cachorro da Lava Jato.