Casa grande e senzala: para brasileiros, construtoras de Portugal incluem “área de serviço” aos imóveis. Por Jean Wyllys

Atualizado em 14 de fevereiro de 2018 às 22:05

Publicado no Facebook de Jean Wyllys

Vejam este exemplo de como é arraigada a mentalidade segregacionista no Brasil.

O jornal O Globo publicou, nessa última semana, coluna do jornalista Ancelmo Góis com a seguinte notícia: “Brasileiros compraram um terço dos imóveis vendidos em Lisboa no ano passado”.

Na matéria, que também apresenta o ranking de compradores estrangeiros, o jornalista explica que é tamanha a procura de brasileiros por imóveis em Lisboa que as empreiteiras locais estariam sendo obrigadas a se adaptar ao novo perfil de consumidor.

Mas vejam quais exemplos de adaptações teriam sido feitas para agradar o público brasileiro: “quarto dos fundos” (o quartinho de empregada), “área de serviço” e até “tanque”.

Isso, mesmo. Pelo levantamento do jornalista, a diferença no gosto de consumidores europeus e os daqui é que os brasileiros pedem dependências para empregadas domésticas. Prédios construídos com entrada de serviço, elevador de serviço, quarto de empregada e tanque para lavar as roupas em casa.

Fica nítida mais uma vez a peculiaridade na nossa cultura, na evolução da formação do povo brasileiro, da divisão entre casa grande e senzala, e como essa origem colonial e racista carrega consequências nas mais diferentes formas, inclusive nossa arquitetura e urbanismo.