Caso Antony: por que o meio futebolístico endeusa homens abusadores? Por Nathalí

Atualizado em 4 de setembro de 2023 às 12:39
Antony

Todo dia um homem desrespeitando mulheres no meio futebolístico.

Estupro, traição, ameaças, violências. Aparentemente, o jogador de futebol se sente à vontade pra fazer absolutamente qualquer coisa, sobretudo contra mulheres.

Dessa vez foi Antony, da seleção brasileira, que teve áudios em que agride a própria namorada vazados.

Nenhuma ruindade fica encoberta, diria minha mãe.

A vítima é DJ e influenciadora digital Gabriela Cavallin, que já compareceu à delegacia para providenciar o boletim de ocorrência. As acusações são de violência doméstica, ameaça e lesão corporal.

Apesar de a denúncia ter ocorrido ontem, o crime aconteceu no dia 20 de maio. Foi requisitado exame de corpo de delito para a vítima, e ela pediu medidas protetivas de urgência. Fotos das marcas de agressão e mensagens de ameaça do jogador foram anexadas ao B.O.

Trata-se de um crime comprovado, municiado de diversas provas, mas, a despeito disto, a CBF ainda não se manifestou – me parece que quer mais abafar o caso.

Em um país sério, a fama não significaria proteção – Robinho, um estuprador, que o diga. Além de pagar judicialmente por suas agressões e ameaças, ele também deve – ou deveria – ser expulso da seleção, cujo técnico também não declarou nada até o momento.

A mídia, por sua vez, faz muito bem o papel de mitigar violência contra a mulher no caso Antony: toda matéria que noticia o fato faz questão de citar os feitos do jogador, como uma medalha nos jogos olímpicos, por exemplo.

Quem se importa se ele é um excelente jogador, se, fora de campo, ameaça e violenta mulheres?

Os feitos profissionais de Antony simplesmente não vêm ao caso. Mantê-lo na seleção brasileira é vergonhoso, sobretudo encobrindo seus erros de modo a não se manifestar.

É uma questão de honra para todas as mulheres brasileiras que ele seja expulso da seleção, e que o meio futebolístico – desculpem, absolutamente tóxico – comece a tratar violência contra a mulher com a seriedade que a questão demanda.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.