Caso Claudia Leitte: “Não há rivalidade entre Jesus e Iemanjá”, diz teólogo

Atualizado em 14 de fevereiro de 2024 às 14:09
Durante show no Carnaval, Claudia Leitte substituiu “Iemanjá” por “Yeshua” em letra de música. Foto: Reprodução

O teólogo e psicólogo Hermes Fernandes se manifestou sobre a cantora Claudia Leitte, que mudou a letra da música “Caranguejo” para evitar mencionar Iemanjá. Evangélica, a artista substituiu um verso da canção por “Só louvo meu rei Yeshua”, uma referência a Jesus Cristo em hebraico.

Ele afirma que “entende” a cantora, mas que “não há rivalidade entre Jesus e Iemanjá”. O teólogo ainda aponta que a Bíblia se refere ao dinheiro quando afirma que não é permitido “servir a dois senhores”.

“Quando Jesus disse que não deveríamos servir a dois senhores, ele não se referia a alguma divindade do panteão greco-romano, e sim, à devoção prestada ao dinheiro, que àquela altura havia sido içado ao status de ‘deus'”, afirma.

Leia o texto na íntegra:

Entendo perfeitamente a atitude da cantora. Qualquer cristão de fé evangélica teria muita dificuldade de prestar tributo a uma divindade que não fosse parte da Santíssima Trindade. A devoção a Cristo requer exclusividade.

Porém, quando Jesus disse que não deveríamos servir a dois senhores, ele não se referia a alguma divindade do panteão greco-romano, e sim, à devoção prestada ao dinheiro, que àquela altura havia sido içado ao status de “deus”.

Não há rivalidade entre Jesus e Iemanjá, ou entre Jesus e as demais divindades cultuadas em religiões de matriz africana. Mas continua sendo impossível servir a Cristo e ao dinheiro.

Quando o general sírio Naamã ofereceu dinheiro a Eliseu pela sua cura, percebeu de imediato que o profeta não estava à venda. Diferentemente de Geazi, seu auxiliar, que, logo em seguida, correu atrás do general, e, usando o nome de Eliseu, tentou extorqui-lo.

Após sua cura, antes de despedir-se, Naamã expôs ao profeta uma situação peculiar. Por ser oficial do exército sírio, ele seguia protocolos, dentre os quais, acompanhar o rei em sua devoção a Rimom, divindade cultuada por seu povo.

Veja o que ele diz: “Nisto perdoe o SENHOR a teu servo; quando meu senhor entrar na casa de Rimom para ali adorar, e ele se encostar na minha mão, e eu também tenha de me encurvar na casa de Rimom; quando assim me encurvar na casa de Rimom, nisto perdoe o SENHOR a teu servo” (2 Reis 5:18). Sabe qual foi a resposta de Eliseu? “Vai em paz!”.

Se Eliseu tivesse a postura intolerante e fundamentalista de muitos cristãos de hoje, recomendaria a Naamã nunca mais colocar os pés no templo de Rimom, e ainda o ameaçaria com o inferno se o fizesse.

Ora, se a cantora estava ali por dinheiro, a última coisa com que ela deveria se preocupar seria com o nome “Iemanjá”. Não a estou condenando por receber um alto cachê por se apresentar durante o Carnaval. Não é este o problema.

Estou apenas apontando a incoerência de muitos cristãos que abominam o Carnaval, chamando-o de festa profana, mas acham que a simples inserção do nome “Jesus” ou “Yeshua” seria capaz de santificá-lo. Jamais viole sua consciência por dinheiro, nem tente dar um jeitinho para tapeá-la.

Se a canção menciona Iemanjá, há que se respeitar a devoção de quem a compôs e de quem a canta. Se quer louvar a Jesus, faça-o com canções que enalteçam o seu nome. Entre um hit e outro, entoe um louvor. Mas não desrespeite a fé de ninguém.

Se quisermos que respeitem nossa fé, temos que aprender a respeitar a fé alheia. Se ela não se sentisse bem fazendo a alusão a Iemanjá, bastava calar-se e deixar que os foliões cantassem por ela.

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Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.