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Caso FIFA: como fica a Globo se Ricardo Teixeira falar numa delação premiada?

Galvão e Teixeira

 

O ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, está negociando uma delação premiada com o Departamento de Justiça americano.

Nos EUA, diferentemente do Brasil, com seus torquemadas sem controle, o acordo é ratificado se as checagens constatarem que quem fala está, de fato, colocando as cartas na mesa.

O empresário argentino Alejandro Burzaco, uma das testemunhas do caso FIFA, afirmou na terça-feira, dia 14, que emissoras de diversos países, incluindo a Globo, pagaram propina para assegurar direitos de transmissão de partidas.

Burzaco era dono da empresa Torneos y Competencias (TyC Sports). Ele relatou um encontro em Buenos Aires, em junho de 2012, com a presença de José Maria Marin, Marco Polo del Nero, um secretário de Ricardo Teixeira e Marcelo Campos Pinto, então executivo da TV Globo.

Nessa reunião, segundo Burzaco, Marcelo presenciou e deu aval para o repasse do dinheiro de Teixeira para del Nero e Marin, referente aos contratos da Copa Libertadores e da Sul-Americana.

O esquema funcionou entre 2006 e 2015, quando a Globo demitiu Campos Pinto, já enrolado. Na festa de encerramento do campeonato paulista, ele fez um discurso desavergonhado em que agradece todos os dirigentes em nome da emissora, explicitando a promiscuidade da relação.

E se Teixeira falar?

dois anos, o Paulo Nogueira escreveu sobre isso:

Sem Blatter, que enfim se rendeu à realidade e renunciou, a Fifa pode enfim passar por um processo de desintoxicação.

E a CBF?

O equivalente a Blatter, no futebol brasileiro, é a Globo.

Enquanto a Globo estiver metida no futebol brasileiro, nada vai acontecer.

O espírito da Globo é o que todos conhecemos: predador. Na relação entre a Globo e o futebol brasileiro, a Globo ganhou extraordinariamente e o futebol brasileiro se reduziu à miséria.

Alguma coisa, obviamente, não funcionou na sociedade. Quer dizer, funcionou apenas para a Globo.

A Globo tem que sair do futebol brasileiro, como Blatter saiu da Fifa.

Mas vai sair?

É difícil, dado o poder na Globo. Mas também era difícil imaginar Blatter fora da Fifa, mesmo depois da eclosão do escândalo.

Há um caminho que pode levar a uma faxina real na CBF, e ele passa por Ricardo Teixeira.

Se a PF e a justiça realmente apertarem Teixeira, os desdobramentos podem ser interessantes.

Imagine que seja oferecida a ele a delação premiada.

Que histórias ele não tem a contar dos anos, muitos anos, de parceria entre a CBF, a Globo – e a Fifa.

A Globo, nos anos de influência de Teixeira (e do antigo sogro Havelange) na Fifa, sistematicamente ganhou os direitos de transmitir a Copa para o Brasil.

Bizarrices ocorreram.

A Globo levou as Copas de 2010 e 2014 por 220 milhões de dólares, pagos à Fifa, 100 milhões pela primeira e 120 pela segunda. A Record foi preterida com uma oferta de 360 milhões de dólares.

Para a Copa de 2014, a Globo colocou no mercado oito cotas de patrocínio, cada uma delas por 180 milhões de reais.

Como o dólar estava em dois reais, isso significava 90 milhões de dólares por cota.

Isso dá um total de 720 milhões de dólares. A Globo não é de dar descontos, e então o faturamento deve ter sido aquele mesmo.

Qual o gasto para cobrir? O maior mesmo é a compra dos direitos. Sequer imagens a Globo teve que gerar, pelo contrato.

Suponhamos, com boa vontade, que a Globo tenha gastado 50 milhões de dólares para armar a cobertura da Copa.

Você gasta 120 mais 50. O total é 170. E fatura 720.

Existe negócio melhor?

É assim que os Marinhos se tornaram a família mais rica do Brasil.

Ricardo Teixeira e João Havelange tinham força, no passado, para influenciar nas decisões da Fifa.

O que a Globo não teria feito para manter a Copa em casa?

Fora o dinheiro, há um ganho imenso de audiência e de prestígio na transmissão de uma Copa, coisas que se transformam em mais negócios lucrativos.

O difícil, no Brasil como conhecemos, é acreditar que Ricardo Teixeira vai ser cobrado pela polícia e pela justiça como Marin será nos Estados Unidos.

Mas se for, e se ele falar numa delação premiada, a CBF vai ser desinfetada, como a Fifa pós-Blatter.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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