
O governo dos Estados Unidos criticou o regime militar brasileiro (1964-1985) no caso da morte do jornalista Vladimir Herzog. Documentos internos do Departamento de Estado dos EUA, obtidos pelo jornalista Jamil Chade, do UOL, revelam que a diplomacia norte-americana temia um endurecimento da repressão após a reação da opinião pública.
Em 24 de outubro de 1975, Herzog compareceu espontaneamente à sede do DOI-Codi/SP (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), na Vila Mariana (SP), após ter sido procurado por militares na TV Cultura. No local, o jornalista foi assassinado.
Na época, os militares alegaram suicídio, uma versão contestada pela população, que se mobilizou em protestos.
As críticas americanas, feitas sob o governo de Gerald Ford, destacaram a falta de transparência na investigação. A Embaixada dos EUA informou que o relatório militar não explicou especificamente o motivo do suposto suicídio e apontou a falta de uma abordagem adversária na investigação.

O telegrama foi redigido em 23 de dezembro de 1975 e enviado a embaixada dos EUA em Brasília para sua sede, em Washington. O relatório confirmava a versão militar de suicídio, mas os diplomatas americanos criticaram a falta de apresentação dos resultados.
“Ninguém realmente esperava que o Exército se acusasse, e ninguém está surpreso com os resultados da investigação”, afirma trecho de telegrama da embaixada dos EUA em Brasília para Washington.
Em telegrama datado de 31 de outubro de 1975, a embaixada americana expressou o temor de que a reação contra os militares devido a morte do jornalista poderia levar a uma repressão mais intensa.
“Um tratamento tão detalhado e crítico de um caso de direitos humanos não tem precedentes na história recente do Brasil, e esse fato, juntamente com o esforço inicial do exército para parecer receptivo, sua aceitação implícita do princípio da responsabilidade, é digno de nota no contexto da questão dos direitos humanos no Brasil”, disse a delegação americana.