Caso PC Farias: Como a imprensa manipulou fatos para incriminar inocentes. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 22 de abril de 2019 às 11:32
Suzana Marcolino e PC Farias

O encerramento do caso PC Farias, determinado agora pelo Tribunal de Justiça de Alagoas, revela a farsa da cobertura jornalística de 22 anos atrás.

“Aquele caso foi o laboratório da manipulação midiática que viria a ocorrer como regra depois”, disse o advogado José Fragoso, que defendeu os seguranças denunciados pelo crime.

Para entender melhor, vamos rememorar:

Em 1996, o Brasil ainda vivia a ressaca do impeachment de Fernando Collor de Mello quando foi divulgado que PC Farias havia sido encontrado morto em sua casa de praia, em Maceió, juntamente com a namorada, Suzana Marcolino.

PC Farias ficou famoso depois que um dos irmãos de Collor, Pedro, o denunciou por cobrar propina de empresários em troca de favores no governo federal.

Tesoureiro de Collor, PC Farias motivou a abertura de uma CPI que, ao final de seus trabalhos, propôs a abertura de um processo de impeachment do então presidente.

Era natural que, diante desse retrospecto, muita gente acreditasse que PC Farias havia sido alvo de um crime de queima de arquivo.

A imprensa embarcou cegamente nessa versão e não recuou, o que produziu uma série de injustiças que descrevo em meu livro “Basta! Sensacionalismo e Farsa na Cobertura do Assassinato de PC Farias”.

Antes de trabalhar nesta cobertura, eu também imaginava se tratar de queima de arquivo, mas, ao apurar os fatos, vi que teimosamente eles indicavam a ocorrência de um crime por motivo passional.

O resultado desse trabalho resultou numa reportagem com o título “Caso encerrado”, o mesmo usado hoje em uma reportagem do UOL sobre o caso, agora oficialmente terminado.

Em 22 anos, não se produziu uma única explicação convincente para o crime, exceto a de que Suzana matou PC por não se conformar com o término do namorado.

Suzana tinha não apenas o motivo para cometer o crime, mas tinha os meios e também contou com uma oportunidade para matá-lo.

Doze dias antes do crime, ela comprou arma e munição com cheques assinados por ela própria. Treinou tiro ao vivo, segundo quatro testemunhas.

No dia do crime, deixou na caixa postal de um dentista com quem tinha ficado em São Paulo uma mensagem equivalente a um bilhete suicida:

“Eu nunca vou esquecer você. Em algum lugar, no outro mundo, eu encontro você”, disse ela.

O término do namoro entre PC e Suzana está comprovado pela relação de telefonemas do envolvidos.  Pelos registros da operadora, PC ignorava as ligações de Suzana e conversava longamente com Cláudia Dantas, a mulher a quem ele entrou um bilhete no Dia dos Namorados.

Era um caso simples do ponto de vista policial, comprovado por uma perícia assinada por onze especialistas, entre eles o professor Badan Palhares.

Mas a imprensa nunca aceitou o resultado da investigação e, divulgando farsa, forçou reviravoltas até que quatro seguranças foram denunciados por homicídio.

Nesse caminho tortuoso, oportunistas aproveitaram a manipulação midiática para ocupar espaço.

Um professor que nunca foi perito acabou ganhando fama de especialista por apresentar versões que agradavam a imprensa.

Magno Malta, então deputado, transformou uma CPI da Câmara dos Deputados num foro para destruir a reputação de Badan Palhares, apresentado por ele como perito do crime organizado.

Com Badan na lona, Magno Malta ficou famoso e daí a se eleger senador foi um pequeno passo. Hoje já se sabe que as denúncias de Magno Malta valem tanto quanto uma nota de 3 reais.

Mas a imprensa, gostosamente, promoveu farsantes, unicamente porque estes diziam o que ela queria ouvir. Mais ou menos o que aconteceria depois em outros casos, como o assassinato de Celso Daniel, o mensalão e agora a Lava Jato.

Em meu livro, escrevi:

“Suzana matou PC com uma bala. Com outra, disparou contra o próprio peito. Sobraram três cartuchos intactos no tambor. As balas e o revólver foram apreendidos e, à disposição da Justiça, é improvável que sejam usados novamente. Porém o gesto de Suzana continua produzindo vítimas, não por vontade dela, mas pelas mãos de quem escreve, pela voz de quem narra e pelos que viram que a única maneira de subir no palco da mídia é transformando um crime passional em um caso político. Algumas pessoas parecem não se importar com quantas vítimas fiquem pelo caminho.

Basta!

Como se vê, não bastou.

Mas ainda resta a possiblidade de seguir denunciando farsas, ainda que a custo pessoal elevado.

Cedo ou tarde, a verdade prevalece.