Caso Porchat e Nataly Mega: o privilégio masculino de poder mudar de ideia. Por Nathalí

Atualizado em 18 de janeiro de 2023 às 13:05
Fábio Porchat e a produtora de cinema Nataly Mega. Reprodução

Na última semana a separação de Fabio Porchat e Nataly Mega foi anunciada por ambos, e o motivo do divórcio rendeu discussões dentro e fora das redes sociais.

O humorista sempre revelou sua vontade de não ter filhos – e sua vantagem em poder mudar de ideia. Já a produtora, com quem fora casado por oito anos, revelara sua vontade de ser mãe desde o início do relacionamento.

Agora, quando a mulher observa atônita seu relógio biológico girar, ambos decidem pela separação – um caso raro de maturidade, capaz de evitar frustrações de ambas as partes.

Ter ou não ter filhos é uma questão grande demais para ser desimportante em um relacionamento – nesse caso, os opostos definitivamente não se atraem.

A questão, entretanto, não é apenas ter maturidade pra abrir mão de um amor que ainda vive em nome de uma incompatibilidade irreconciliável.

A questão é que essa decisão pesa muito mais para as mulheres, que sofrem pressões não apenas de ordem biológica, mas também de ordem social para serem mães até uma certa idade.

Quero dizer que a decisão de ter um filho – seríssima, evidentemente – é mais fácil para os homens. O homem pode resolver ter um filho aos cinquenta, ou não tê-lo nunca.

Uma mulher que decide não ser mãe – por qualquer motivo que lhe seja íntimo – ainda é vista na sociedade como a mulher que não é completa, que precisa passar necessariamente pela maternidade para ser validada.

Um homem que decide não ser pai – há aqueles que o fazem mesmo depois de terem filhos – a pressão é pouca ou nenhuma: não há, nos valores da sociedade contemporânea, nada que pressione os homens a terem filhos antes dos 40, e isso não é apenas uma questão biológica: trata-se de uma questão social absolutamente complexa.

Já vi outros relacionamentos acabarem pelo mesmo motivo: é um clássico da pós-modernidade. A complexidade da questão, entretanto, é pouco encarada por homens e mulheres.

De onde vem a nossa “vontade” de sermos mães? Até que ponto é uma vontade e até que ponto é um resultado de pressões sociais?

Essas são questões que devem permear as narrativas feministas, sobretudo em tempos de feminismo ChildFree – uma corrente tenebrosa, mas que também tem algo a nos ensinar: não querer filhos não é como odiar crianças – significa apenas o desejo de afirmar-se como uma mulher completa e realizada independente de se ter filhos ou não, e reafirmar a ideia de que mulheres não são mães do universo.

O fato de não podermos mudar de ideia – esse privilégio que, como tantos outros, foi relegado apenas aos homens – acaba por nos pressionar a construir a família de comercial de margarina que nos fizeram almejar antes que o relógio biológico pare de funcionar.

Eis o resultado: o amor resiste a muitas coisas, menos às pressões do patriarcado sobre a vida reprodutiva das mulheres.

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