Caso Pyong Lee: Record, emissora da família brasileira, usa cena de adultério para propaganda. Por Nathalí

Atualizado em 20 de julho de 2021 às 17:53
Sammy Lee e Pyong Lee. Foto: Reprodução

Imagina ser traída em rede nacional na mesma semana da morte da sua mãe?

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Essa é a história de Sammy Lee, que teve a infelicidade de se casar ainda jovem com Pyong Lee, um mágico, ex-bbb e agora contratado da Record (daquelas figuras que surgem na mídia e você não entende muito bem o porquê) e acaba de pedir o divórcio depois de uma humilhação pública patrocinada pelo marido e pela emissora da família brasileira.

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O ex-casal foi parar nos trending topics do Twitter hoje depois que a queridíssima, só que não, Rede Record, achou que seria uma boa usar as imagens da traição de Pyong num teaser de divulgação do próximo reality-show que a emissora lançará em breve (ao que parece, eles estão se especializando no gênero reality-baixaria).

Imagino a mulher em frente à TV, vendo o marido na cama com outra em rede nacional enquanto o filho dá um faniquito no quarto porque não quer guardar os brinquedos ou qualquer outra chatice da vida doméstica (depois dá uma de Matsunaga e ninguém entende).

O pior é que esse tipo de humilhação é recorrente no universo das relações heteronormativas. Desde os nossos avós e até hoje, todo mundo conhece uma história da tia que foi traída com a melhor amiga ou do “pai” que foi comprar cigarro e nunca mais voltou (fugiu com a amante).

Pior ainda se o casal tiver filhos: combinado a um modelo de maternidade que aprisiona, as relações heteronormativas (observadas em geral na famigerada família tradicional brasileira) são, não raro, um verdadeiro castigo para as mulheres, submetidas à naturalização da infidelidade masculina e a uma vida doméstica de solidão e sobrecarga de tarefas.

É triste dizer, mas a história de Sammy Lee é comum e todas nós – assim como nossas mães e avós – sabemos disso. O adultério é um velho conhecido – mais do que isso, uma especialidade – da família tradicional brasileira.

O ponto fora da curva – ou nem tanto – é que uma rede de TV fundamentalista, evangélica e de propriedade de um bispo se preste a usar as imagens de um adultério pra fazer propaganda. Viva a hipocrisia ou: um belo suco de conservadorismo brasileiro.

Não sejamos ingênuos a ponto de esperar empatia da Rede Record a uma mulher traída e enlutada, mas seria decente fingir que se alinha à moral cristã na hora de montar a grade de atrações da emissora.