“Caso raro”: Psiquiatras dizem que remédios não justificam “paranoia” de Bolsonaro

Atualizado em 23 de novembro de 2025 às 21:38
Jair Bolsonaro olhando para a câmera, sério, em close
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – Reprodução

A combinação de sertralina e pregabalina, medicamentos que Jair Bolsonaro afirma usar, é considerada segura e amplamente prescrita para idosos, mas pode, em situações raras, provocar episódios de delírio, que na psiquiatra são entendidos como alteração da atenção, da cognição e do nível de consciência. Com informações da Folha de S.Paulo.

Durante a audiência de custódia neste domingo (23), na Superintendência da PF em Brasília, Bolsonaro disse ter tentado abrir a tornozeleira eletrônica na sexta (21) após uma “certa paranoia” atribuída ao uso dos remédios, afirmando que só “caiu na razão” à meia-noite.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, após receber visita da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro – Gabriela Bilo/Folhapress

A sertralina, um antidepressivo ISRS, é indicada para depressão, ansiedade, pânico, TEPT, fobia social e TOC. Já a pregabalina, anticonvulsivante de efeito ansiolítico, também é usada no tratamento de dor crônica.

Segundo o psiquiatra Ricardo Castilho, do IPq-HCFMUSP, a interação entre os dois fármacos pode levar, em alguns casos, à hiponatremia, queda de sódio no sangue capaz de causar confusão mental e, em casos severos, até coma. Ele ressalta que, antes de atribuir delírio aos remédios, é necessário descartar outras causas frequentes em idosos, como infecções, desidratação, alterações clínicas ou mudanças abruptas de dose – para mais ou para menos.

Para chegar no quadro que o ex-presidente destacou ter estado, o especialista disse que seria preciso saber se houve superdosagem ou se o paciente parou de tomá-los ou aumentou a dose por conta própria.

O psiquiatra Rodrigo Fonseca Martins Leite, também do Instituto de Psiquiatria da USP, reforçou ao veículo que a combinação é geralmente segura e raramente provoca alucinações como a relatada pelo ex-presidente. Para ele, o comportamento de Bolsonaro — usar um ferro de solda para tentar abrir a tornozeleira — exige organização cognitiva incompatível com quadros típicos de confusão mental relacionados à medicação. “É muito pouco provável que essa interação justifique esse tipo de ação”, afirmou.

Sofia Carnavalli
Sofia Carnavalli é jornalista formada pela Cásper Líbero e colaboradora do DCM desde 2024.