Casos Mercado Livre e soja dos EUA mostram os riscos de misturar política com negócios

Atualizado em 13 de abril de 2025 às 20:04
Lula de perfil cumprimentando funcionárias no Centro de Distribuição do Mercado Livre, as três pessoas sorrindo
Lula em visita ao Centro de Distribuição do Mercado Livre, em Cajamar (SP) – Reprodução/X

Num mundo cada vez mais polarizado, a mistura entre política ideológica e decisões econômicas tem se tornado uma armadilha perigosa — tanto para países quanto para seus cidadãos. Os casos recentes nos Estados Unidos e no Brasil mostram, de forma quase didática, como decisões motivadas por alinhamentos políticos e ideológicos, quando aplicadas a relações econômicas e comerciais, podem ter efeitos devastadores.

O caso da soja nos EUA: o preço da guerra ideológica

Durante o governo Donald Trump, uma das principais frentes da política externa tem sido a guerra tarifária com a China. O objetivo é forçar o gigante asiático a recuar em práticas comerciais consideradas desleais. O problema? Em meio ao jogo geopolítico, os produtores de soja norte-americanos — tradicionalmente aliados do Partido Republicano — se viram como dano colateral. A China, até então o maior comprador da soja dos EUA, simplesmente está trocando de fornecedor, escolhendo o Brasil.

A resposta veio rápido e foi dura: produtores americanos temem uma queda brutal nas exportações, acúmulo de estoques e perdas bilionárias. Os próprios fazendeiros, que em muitos casos haviam apoiado Trump, passaram a alertar sobre o risco de colapso generalizado no setor. O episódio deixou claro: quando se sacrifica a racionalidade econômica em nome da retórica ideológica, quem paga a conta são os trabalhadores, os empresários e a economia como um todo.

Brasil repete o erro: boicotar o próprio crescimento

Corta para o Brasil.

O Mercado Livre, gigante do comércio eletrônico na América Latina, multinacional Argentina, anuncia um investimento recorde de R$ 34 bilhões no país — 48% a mais do que no ano anterior. Uma notícia que, em qualquer cenário racional, deveria ser comemorada. Afinal, trata-se de geração de empregos, movimentação da economia e expansão da infraestrutura logística.

Mas não foi o que aconteceu.

O presidente dos EUA, Donald Trump, está levando o negócio de seus apoiadores ao colapso. Foto: REUTERS/Nathan Howard

Bolsonaristas, incomodados com a visita do presidente Lula ao centro de distribuição da empresa em Cajamar (SP), iniciaram uma campanha de boicote à plataforma. O motivo? O simples fato de Lula ter vestido o uniforme da empresa e participado do anúncio de investimentos ao lado de ministros.

A contradição salta aos olhos: ao boicotar uma empresa em expansão por conta da presença de um presidente eleito democraticamente, esses manifestantes estão prejudicando não um político, mas trabalhadores, consumidores e a própria economia que dizem querer proteger. É como queimar a plantação para protestar contra a chuva.

A lição que ninguém parece querer aprender

Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, a lição é clara: ideologia pode ganhar voto, mas não gera emprego. Política pública precisa ser feita com base em dados, impactos sociais e resultados concretos — e não na guerra de narrativas.

Quando um país fecha mercados por conta de disputas ideológicas, ou quando seus cidadãos tentam “punir” empresas por interagirem com o governo, o resultado é sempre o mesmo: menos crescimento, menos empregos e mais radicalização.

Negócios não devem ser reféns de bandeiras partidárias. Quando isso acontece, quem perde é o país inteiro.