Causa própria: a história do maior doador de dinheiro à campanha de Anastasia em MG, que vem a ser seu 2º suplente

Atualizado em 30 de agosto de 2018 às 11:53
Lael Varela e Anastasia
(foto: Reprodução Facebook)

A família do ex-deputado federal Lael Varela (DEM) fez a maior doação para a campanha ao governo do estado do senador Antônio Anastasia. 

O valor de R$994 mil impressionou, pois é uma quantia semelhante às milionárias doações feitas pelas empreiteiras, hoje proibidas por lei. 

O que levou uma família a doar tanto dinheiro assim, para uma campanha ao governo do estado? 

Quem é Leal Varela, ex-deputado, atualmente o segundo suplente de Anastasia?

Em meados de 2011, o Estadão publicou uma reportagem sobre Lael Varela, então deputado federal. Ele fora apanhado em um escândalo ligado a um de seus negócios, a Faculdade de Minas Gerais (FAMINAS). 

A instituição havia recebido dinheiro público durante anos, desconhecendo a legislação que proíbe empresas dos parlamentares de estabelecerem contratos com a União.

Para o jornal paulista, “a história parlamentar de Varella está associada à confusão entre negócios públicos e privados. A fundação Cristiano Varella, que administra o hospital do câncer de Muriaé, recebeu R$ 31,3 milhões entre 1998 e 2006. O dinheiro financiou a construção do hospital e seus equipamentos. Só por meio de emendas parlamentares do deputado e seus colegas, o hospital administrado pela família de Varella recebeu R$ 24 milhões”. 

Se esse dinheiro fosse atualizado, facilmente atingiria hoje a cifra de centenas de milhões de reais.

Matéria da Folha de S.Paulo de 09 de dezembro de 2001 acusava Varella de ter se apropriado de dinheiro público do Ministério da Saúde, na gestão de José Serra, para construir um hospital privado em Muriaé, Minas Gerais.  

Na época o desvio custou aos cofres públicos R$ 19,7 milhões – cerca de R$ 65 milhões a preços de hoje. 

Josias de Souza descreveu assim o ex-deputado: “se você não é fanático pelo noticiário do Congresso, é natural que o nome de Lael Varella lhe soe pouco familiar. É um opaco deputado do pefelê mineiro, uma flor que viceja à sombra, um mandato sem rosto. Amealhou fortuna. É o maior distribuidor Chevrolet de Belo Horizonte. Possui revendas Scania em Minas, Goiás, Espírito Santo e Brasília. É dono de rádios e de transportadora. Fazendeiro, cria gado e cavalos de raça. Uma alma assim, tão empreendedora, não vem ao Congresso a passeio. Natural que não tardasse a farejar na comissão de Orçamento um portal de oportunidade$. Súbito, encantou-se pelo ramo hospitalar”

Em meados de 2000, Lael Varella, à época no PFL-MG, foi acusado por envolvimento com um traficante de drogas em Governador Valadares, cidade onde o parlamentar possui negócios e base eleitoral. 

A acusação foi feita pelo comerciante de imóveis Devair Lucas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que investigava o narcotráfico no Estado. 

A CPI comprovou a existência do registro de 58 carretas supostamente de propriedade do Grupo Varella em nome do traficante condenado Raimundo de Souza Argolo Sobrinho. 

Segundo o Diário do Grande ABC, Lucas entregou à CPI documentos que foram considerados pelos deputados mineiros “fortes indícios” contra Lael Varella. O principal documento demonstrava que o traficante Raimundo Argolo Sobrinho possuía em seu nome 58 carretas que supostamente pertencem à Comércio de Veículos Pesados (Copeve), uma concessionária de caminhões em Governador Valadares e Muriaé pertencente ao deputado federal. 

O traficante era irmão do gerente de vendas da concessionária em Governador Valadares, Paulo César Argolo.

Segundo o presidente da CPI, deputado Marcelo Gonçalves (PDT), a suspeita é a de que Varella utilizava Argolo Sobrinho como ‘laranja’. O deputado Washington Rodrigues (PL) lembrou que os documentos podem comprovar um caso de sonegação fiscal. Já o deputado

Um levantamento do site Congresso em Foco mostrou que, dos 513 deputados federais, 261 fizeram 1.885 voos internacionais entre janeiro de 2007 e outubro de 2008. 

As passagens foram pagas pela Câmara e a pesquisa levou em conta apenas os dados das duas maiores empresas aéreas brasileiras. Na lista aparece Lael Varela. Constavam para ele duas passagens para Paris, França.

Denúncia mais pesada, envolvendo a verba parlamentar, gerou uma longa reportagem no Fantástico, na qual o ex-deputado foi acusado de envolvimento em um negócio de locação de veículos em empresas de fachada. 

De acordo com o dominical da TV Globo, “alugar um automóvel em uma padaria ou em uma loja de materiais de construção? Não parece a coisa mais comum do mundo, mas alguns políticos brasileiros fazem isso com frequência. Uma denúncia popular chegou ao Tribunal de Contas da União para que esse procedimento seja investigado”.

Um dos parlamentares envolvidos era Lael Varela, que mesmo milionário precisava alugar carros. Tudo bem. É direito dele. Mas o lugar onde gastou o dinheiro da verba indenizatória causa estranheza. 

A placa da empresa registrada nas notas fiscais enviadas por Lael para justificar o gasto da verba indenizatória não tinha relação nenhuma com locação de veículos. A placa da loja exibia o nome Faxinam. 

Embora a empresa não tivesse aparentemente nenhuma relação com locação de veículos, no mesmo endereço estava registrada outra empresa, a Vila Rica Rent a Car., onde, entre maio de 2011 e maio de 2013, o deputado injetou R$ 150 mil. 

Em reportagem de julho de 2011, o Estadão contou que o deputado ganhou R$ 76,2 mil do Tesouro ao ceder espaço para concursos públicos. A lei proíbe deputados de estabelecerem contratos com a União.

Ele informou, na época, que iria passar a empresa para o nome dos filhos e deixaria a sociedade. Antes dessa declaração, havia negado ser sócio da empresa ou ter recebido pagamentos da União. Confrontado pelos fatos Varella foi obrigado a recuar. 

Conforme pesquisa de ordens bancárias pagas, feita pela ONG Contas Abertas no sistema mantido pelo Tesouro Nacional, em 2003 a empresa Lael Varella recebeu R$ 48.731 pela recompra de títulos da dívida pública emitidos para financiar estudantes. Nos anos seguintes, até 2011, a empresa recebeu pelo aluguel de suas instalações para a realização de concursos.

Ao que parece a doação da família Varella para a campanha do candidato aecista Antônio Anastasia não aconteceu simplesmente por afinidade ideológica ou altruísmo. 

Após anos fazendo negócios tão bons à sombra do estado, é possível entender porque os Varellas torcem tão desesperadamente para a volta dos aecistas ao poder.