Por que vou sempre que posso ao Cavern Club

Atualizado em 29 de janeiro de 2013 às 21:23

A casa musical em que os Beatles surgiram em Liverpool ainda é um ótimo programa

Ainda com Pete Best na formação
Ainda com Pete Best na formação

O Cavern Club, como o nome diz, é uma caverna.

Você desce vários lances de degraus até chegar ao salão na Matthew Street, em Liverpool. As paredes, na descida quase sem luz, têm fotos e cartazes que são ao mesmo tempo uma beleza e um risco. Bobeie e o tempo é inevitável.

Você vai chegando e a música começa a invadir seus ouvidos. Beatles, quase sempre. As pessoas cantam junto com os artistas que se revezam no pequeno palco reconstruído. É gente de várias partes do mundo, e de todas as idades. Você vê jovens de 20, adultos de 30, 40, 50 ou 60, e senhores e senhoras que beiram os 70.

O lugar é simples, e esta é uma de suas graças. Você tem que ter sorte para arrumar uma mesa que permita ver o palco. Se não, a alternativa é ficar de pé ou se sentar e só escutar.

A cerveja é boa, o banheiro masculino não é a coisa mais limpa do mundo, e nem aliás de Liverpool, mas também não chega a ser uma calamidade.

O Cavern sempre tem gente. Na última vez que fui a Liverpool, no domingo a noite não havia ninguém na cidade. Mas o Cavern vibrava.

Vou lá sempre que posso.

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Sempre que posso volto ao Cavern

Quando os Beatles se apresentaram lá pela primeira vez, era outra a formação. Pete Best era o baterista, não Ringo. Paul ainda tocava guitarra. Havia apenas dois microfones, provavelmente porque eles não podiam arcar com um terceiro ainda. Isso acabou se tornando um dos encantos do conjunto. Um cantava num microfone – Paul ou John, quase sempre – e o outro microfone era dividido geralmente entre George e quem não estivesse fazendo o vocal principal. Eles mantiveram os dois microfones mesmo depois de ricos e famosos. O fato de Paul ser canhoto facilitava a acomodação de dois num só microfone.

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Bandas tocam bons covers de seus idolos

Os Beatles só tocavam músicas de outros no Cavern. O horário em que eles tocavam não era noturno. As apresentações eram na hora do almoço. Os rapazes eram tão bons que logo começaram a se formar filas que podiam dobrar a esquina. Era gente que queria vê-los sem saber que queria ver a história sendo movimentada.

Eles tocaram 292 vezes no Cavern. Tinham o sotaque local, o scouse. Se você pensa que o inglês é às vezes complicado é porque não ouviu alguém de Liverpool falar o scouse.

Quem os viu conta que eles davam passos errados de propósito durante as músicas. “Eles eram rebeldes, e nós éramos mini-rebeldes que os apoiavam”, diz um admirador que os viu surgir no Cavern. “Havia uma camaradagem entre eles que se expressava na hora em que um encarava o outro no microfone dividido.”

De lá eles saíram para Londres e logo para o mundo.

O Cavern ficou.

Não é mais a casa que revelava gente nova de Liverpool ou trazia bandas que estavam surgindo em Londres, como o The Who.

Virou uma espécie de museu, em que tocam artistas que olham não para o futuro, como John, Paul, George e Ringo. Mas para o passado.

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Uma espécie de museu

Seus dias de glória ficaram lá para trás, mas que dias foram aqueles, meu Deus, que dias.

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O Cavern atrai fãs de toda parte