Celso de Mello não trancou a porta para Lula, num momento em que a jamanta se aproxima do Judiciário. Por Fernando Brito

Atualizado em 26 de junho de 2019 às 8:21
Lula em entrevista o DCM e o Tutaméia. Foto: Reprodução/YouTube

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Logo nos primeiros dias depois do escândalo provocado pelas revelações do  The Intercept Brasil, numa participação numa entrevista realizada pela TVT, respondendo a uma pergunta sobre se os acontecimentos poderiam levar a Justiça brasileira a voltar a um quadro de normalidade – o que implicaria a anulação do processo do triplex, pela evidente parcialidade do juiz Sérgio Moro – dise não acreditar que isso pudesse acontecer rápido.  E usei uma imagem: saímos tanto do caminho que não será um simples choque que nos fará voltar a ele, que seria preciso que uma jamanta abalroasse o Judiciário brasileiro.

Ontem, com o julgamento dos habeas corpus de Lula e com a sabatina ( com direito a lances de horror explícito) tive a nítida impressão de que, afinal, a jamanta se aproxima.

Parece que as manifestações de Glenn Greenwald sobre novas revelações bombásticas  e a de Celso de Mello sobre o impacto destas no caso poderiam ser ser resumidas com a mesma frase: “Sim, mas ainda não”.

Mello, se não abriu a porta para Lula, também nao a trancou. Ao postergar o adiamento da apreciação do mérito da suspeição evidente de Moro, o decano da corte pareceu querer dizer: esperem que isso se torne evidente para todos e ajude a tornar politicamente palatável a decisão necessária. Celso de Mello é um conservador, politicamente alinhado com os conceitos anti-PT, mas deixou claro que haverá um limite em sua tolerância aos abusos do ex-juiz de Curitiba.

Greenwald, enquanto demolia o PSL impiedosamente na Câmara, não fez não antecipou revelações  e deixou como ponto central de suas falas o fato de que a entrada da Folha no caso – e em breve, de outro veículo “de direita” – vão demolir o argumento de que o “Morogate” possa ser uma simples “armação” esquerdista para beneficiar Lula.

O jornalista mostrou que está há tempo suficiente no Brasil para entender que aqui a busca da verdade é um pequeno detalhe perto da manipulação de imprensa e Justiça por interesses.  É como se Davi compreendesse que precisa da ajuda de alguns brutamontes para enfrentar Golias.

Aliás, a forma e o número de vezes que Glenn se referiu à revista Veja são suficientes para que se imagine que é a revista o novo parceiro estratégico do jornalista. uma destas ironias que só no Brasil de Augusto dos Anjos se poderia imaginar: a revista que erigiu a imagem de deus do juiz de Curitiba ser aquela que pode acelerar seu caminho para a fogueira das inutilidades.

Para o recente gosto do ministro Moro pelo latim, similia similibus curantur,  os semelhantes curam-se pelos semelhantes.

O fato é que, não tendo se tornado avassaladoras, as fogueiras que ardem no caso Lula seguem acesas embora ainda não altas o suficiente para imolarem Sérgio Moro.

Tudo indica que em breve subirão.