“Lula quer fazer lives semanais”, diz Paulo Pimenta ao DCM TV, num balanço dos cem dias do governo

Atualizado em 7 de abril de 2023 às 19:23
Paulo Pimenta concede entrevista exclusiva ao DCM TV. Reprodução YT

 

Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom), concedeu entrevista exclusiva ao DCM TV no “Café da Manhã” desta sexta-feira (07). Nela, ele falou sobre a programação da administração para divulgar seus feitos nos primeiros 100 dias, o combate às fake news e as estratégias de Lula no setor. Confira trechos:

100 dias de governo

A principal mensagem é a ideia de que o Brasil voltou a ter governo, protagonismo internacional, preocupação com quem mais precisa. O Brasil tem um presidente que abre mercados no mundo.Um governo que pensa no todo mas pensa individualmente em cada um. O Brasil voltou a ter esperança, acreditar em seu futuro. O povo volta a ter auto-estima. O governo volta a ser uma fonte confiável de informação. Cem dias é só o começo, mas o suficiente para mostrar muita coisa.

Vamos lançar o “site dos 100 dias” no qual a pessoa vai enxergar por estado como as medidas tomadas afetarão a população. Vamos trabalhar com o máximo de transparência e segmentação da informação.

O objetivo inicial era colocar a casa em ordem, mas de todos os programas lançados, o único que já chegou às pessoas foi a primeira parcela do Bolsa Família. Lula usa a metáfora do chuveiro elétrico antigo: até chegar água quente sai um pouco de água fria.

O presidente costuma dizer que o governo tem 4 anos. Tem suas metas, compromissos e objetivos, e esses mecanismos criados para avaliação de desempenham não acompanham a realidade dos fatos.

A campanha dos 100 dias está linda. Ela vai ser veiculada até nos cinemas. Quero pegar um público que não assiste TV aberta e que eu não teria como pegar de outra forma.

Mais do mesmo?

O programa Mais Médicos não é mais o mesmo. Ele foi repaginado. A maior crítica sobre era sobre a não utilização de médicos brasileiros. As 15 mil primeiras vagas são para brasileiros. Se as vagas não forem preenchidas, serão abertas para os formados no exterior que não fizeram o Revalida. Só depois serão chamados médicos estrangeiros, ou seja, só se os brasileiros não quiserem. Além disso, foi criado um “fundo de garantia” que visa fixar o médico na localidade: a partir do terceiro ano na cidade, ele pode sacar. Se ficar quatro, poderá sacar na integralidade.

Quanto à presença de profissionais estrangeiros, nessa nova versão eles serão contratados, se necessário, diretamente, sem a intermediação de nenhum órgão, como acontecia em sua primeira versão. Com essas medidas, extingue-se os principais focos de críticas que a iniciativa sofreu.

Por que o Lula não faz lives?

O Lula quer fazer as lives semanais. Assim que ele voltar da China, vamos retomar as entrevistas às rádios regionais. Ele quer ter um momento semanal para falar com a população.

Bolsonaro e Lopez Obrador não são parâmetro, pois eles não falam com a imprensa, diferentemente do presidente Lula. Não faria sentido o presidente fazer uma fala geral e, paralelamente, fazer uma live.

Ontem foram 11 perguntas, de diferentes órgãos de imprensa. É muito mais proveitoso do que escolhermos uma pauta exclusiva. Nunca houve uma semana em que o presidente não tenha dado uma entrevista.

Se fizermos uma live com o presidente Lula nos canais institucionais do governo, ela terá que se ater às questões de governo. Uma live sobre política, deverá ser feita no perfil pessoal do governante.

A disputa do dia a dia deverá ser travada no ecossistema progressista  que temos no país. Isso envolve as bancadas, os influenciadores digitais, os movimentos sociais, etc. Estamos trabalhando nessa direção e acho que já conseguimos melhorar bastante.

Combate às Fake News

Não cabe ao governo determinar questionar o que é verdade o que é mentira. O governo não criou uma agência de checagem, mas não é possível que o governo seja vítima diariamente de mentiras e a população não tenha onde checar se é verdade ou não. O governo tem obrigação de fazer algo assim.

Quando a ministra Nísia lançou o multirão pela vacinação, ficou apavorada pela quantidade de fake news. O Brasil já teve 89% de cobertura vacinal e hoje tem 60%. Doenças erradicadas voltaram a existir.

Em diferentes regiões do país eu tenho diferentes níveis de resistência à vacina. Eu não posso ter uma comunicação única, pois eu preciso dialogar naquela região. Vou colocar um comunicador com sotaque de gaúcho para falar no interior do Nordeste?. Quero fazer uma política de comunicação na qual o Brasil se enxergue.

As pessoas postam coisas absurdas sobre as vacinas sem comprovação científica, e isso é impulsionado e monetizado pelas redes sociais. É uma ação criminosa. É preciso de um mecanismo governamental para desmentir isso.

A oposição fez uma montagem com o assassino de Blumenau como apoiador do presidente. Não se trata de uma mentira contra o governo, e sim contra o PT. Vamos buscar junto à PF e os órgãos de fiscalização os responsáveis.

Quando Lula foi a São Sebastião, tinha um meme com uma foto do Bolsonaro andando de jet ski e outra do Lula, que interrompeu sua folga para ir até a cidade em que ocorreu a tragédia. Fui cobrado pela Secom não ter feito isso, mas não podemos. Temos que fazer a comunicação institucional, que é limitada legalmente.

Modulando e aprendendo

Vocês me conhecem, sabem da minha atuação parlamentar. Eu estava muito afim de transmitir o depoimento do Tacla Duran, por exemplo, mas eu tenho que ter um certo cuidado. Em função da minha atividade, tenho limitações. Vamos modulando e aprendendo.

Papel da Secom

A Secom produz conteúdo para que a sociedade possa aproveitare fazer com que a informação chegue lá na ponta. Na habitação, empenhamos R$ 203,5 milhões. Em 2022, nenhum centavo foi direcionado para isso. Em hidrovias, enquanto Bolsonaro reservou R$ 34,3 milhões, nós disponibilizamos R$ 326,6 milhões. Em rodovias, foram R$ 3,3 bi contra R$ 892,5 milhões da gestão anterior. São dados para fazermos a disputa política.

A Secom não pode se envolver em briga de rua.

Lula e Paulo Pimenta, durante Café da Manhã com jornalistas. Foto: Ricardo Stuckert

Como é trabalhar com Lula

Lula é um líder político que tem opinião e tem um jeito de trabalhar. Não é um Paulo Pìmenta da vida que chega e diz: ‘Você vai interromper sua agenda para fazer uma live para falar com as pessoas’

Seria ilusão achar que o Lula vai se adaptar ao meu jeito. Eu que preciso aprender como ele trabalha. Ontem o Lula disse que tem sido aconselhado pelo ministro PP a não falar o nome das pessoas. Não vou mais citar os nomes das pessoas. Dois minutos depois, ele citou o nome do Bolsonaro.

Lula exige que seus auxiliares despachem com ele com o celular desligado.O despacho diário com o presidente é uma responsabilidade. Eu entro 8h e às vezes saio às 11h. Quando ligo meu celular, devem entrar cerca de 400 mensagens, sendo umas 50 de jornalistas pedindo para tomar um café à tarde.

Destaque aos feitos da gestão

Eu não sou contra que o presidente fale com toda a sinceridade sobre o que ele pensa.

Eu vou numa atividade da ministra Nísia de lançamento de um programa. Se eu for lá e introduzir um tema que não é aquele, eu anulo aquela pauta. Eu capturo a imprensa para outro tema e todo meu esforço para dar visibilidade a um tema que eu quero que chegue à sociedade é anulado.

Campanha contra os juros

As pesquisas mostram que as falas do presidente sobre os juros foram um acerto. O maior comunicador que esse governo tem é o Lula. Toda nossa estratégia vai nessa direção. Nós temos essa certeza: quando ele fala a audiência é maior que a do próprio governo.

No 1º momento, as pessoas ficaram ‘cabreiras’ sobre se o presidente deveria ter pautado a questão dos juros. O resultado das pesquisas mostram que Lula fez bem. Nossa taxa é de 8.42 de juro real: é a maior do mundo. O 2º da lista dava quatro ponto alguma coisa. Está todo mundo endividado. As empresas não conseguem mais trabalhar. Quem achava que o Lula tinha se precipitado, errou. Esse juros são pra matar o capital produtivo.

Lula, Sérgio Moro e o “conjunto de coincidências”

Na questão da Lava Jato, temos que nos colocar na posição do Lula. Aí você descobre que o juiz fazia parte de um grupo nas redes junto com os promotores, articulando movimentos, manipulando provas, conduziam acordos de delação envolvendo escritórios de advocacia. Possivelmente tinham um canal direto ilegal com o Tribunal (TRF-4). Descobrem que no dia da sua condução já estava tudo combinado. Aí você descobre que perdeu o neto, perdeu o irmão, que não pode ir ao velório. Lembra da D.Marisa, que aliás morreu de tristeza pelas acusações falsas contra os filhos. Quer que o Lula não tenha sentimentos?

Aí tu olha e vê que ‘”a juíza do copia e cola”, que não era do caso assume o processo e o caso do PCC, que era em SP, vai para um delegado da PF em Cascavel.

A ordem de retirar o sigilo vem da justiça do Paraná. Há um conjunto de coincidências…É humano que a pessoa reaja com indignação. Ele nunca fez com que a PF não fizesse seu trabalho. Nunca interferiu. Não querer que o Lula não possa sofrer com tudo isso, ter esse sentimento de indignação, é exigir demais.

Lula “desabou” ao saber do ataque em Blumenau

Quando comunicamos a ele da notícia de Blumenau eu estava do lado dele. Ele estava em uma reunião . A primeira coisa que veio na cabeça dele foi do neto. Ele começou a lembrar da mãe do neto e desabou”

O senhor quer gravar um vídeo sobre o que aconteceu em Blumenau?, perguntei, e ele respondeu: “Eu não consigo. Não saberia o que dizer”. Na sequência, ele fez um minuto de silêncio e depois o tema foi delegado para o ministro da Educação falar sobre o tema.

Lula e a convocação de rede nacional de rádio e TV

O presidente Lula ouve várias pessoas, mas ele tem a sua própria opinião. Em 8 de janeiro, muitos disseram que ele precisava fazer uma rede nacional de rádio e TV para falar sobre os  ataques. Ele recusou, preferindo fazer uma reunião com os governadores e os chefes dos outros poderes e, na sequência, foi visitar os prédios que haviam sido destruídos. Aquele vídeo foi o de maior engajamento de todo o governo.

Em 8 de março, por exemplo, Lula optou que o Ministério das Mulheres fizesse um pronunciamento em cadeia nacional.

Empresa Brasileira de Comunicação e a importância do rádio

Há uma cultura no Brasil da superconcentração de veículos para fazer-se a comunicação.

Nós trabalhamos até com carro de som em comunidade, mini outdoor na frente de favela. Não adianta colocar anúncios do recadastramento do Bolsa-Família na CNN ou na GloboNews: o público alvo não assiste.

Eu acredito muito em rádio. O governo não comunicava mais por esse veículo. O boletim diário da Secom vai para mais de 8 mil emissoras. É impressionante o número de estações que veiculam o nosso boletim.

A EBC não é só a TV Brasil. A Agência Brasil hoje é a principal fonte de informações para milhares de sites, blogs e rádios.

Vamos entrar com a nova programação. Fizemos uma série sensacional sobre a ditadura e vamos voltar com a programação infantil. Hoje em dia só tem programas para crianças na TV a cabo.

Vamos dobrar o valor investido nas rádios.

Curiosidades sobre a Rádio Nacional da Amazônia

Temos a Rádio Nacional da Amazônia, um patrimônio nacional. Nela, há dois programas por dia, nos quais as pessoas mandam recados: “Alô, D. Maria…seu marido está saindo de barco”. Todos os dias são muitos recados. Em pleno século XXI, há lugares em que a única informação que chega é por rádio.

Até 2016, a EBC tinha dramaturgia: novela de rádio. O repórter Marcelo Canellas, recentemente demitido da Globo, fez um Globo Repórter e, em comunidades amazônicas, perguntava sobre Fernanda Montenegro e Antonio Fagundes e as pessoas desconheciam. Mas e “fulana de tal”: “Claro, é o nome da minha filha”. Era o nome da comunicadora da Rádio Nacional da Amazônia.

Redes sociais, TV a Cabo e a vida real

Todos os dias eu descubro o tamanho da minha ignorância. Tem ideia de qual audiência que tem uma GloboNews? 0,6 ou 0,4 pontos. A CNN é 0,2 ou 0,1. É muito pouco. O percentual da população que tem acesso é irrisório.

Tem gente que acha que o Twitter dele é o centro da comunicação mundial, quando 80% das pessoas no país não tem banda larga.

Abaixo a entrevista, a partir do 53’19”: