Cemitérios clandestinos: investigações apontam vítimas ocultadas por facções criminosas

Atualizado em 21 de dezembro de 2025 às 14:11
Vítimas de facções criminosas com corpos ocultados em valas clandestinas

Investigações conduzidas por forças de segurança em diferentes estados apontam a existência de cemitérios clandestinos mantidos por facções criminosas para ocultar corpos de vítimas de homicídios. Em vários casos, os desaparecidos são dados como mortos mesmo sem que os corpos tenham sido localizados, o que dificulta a responsabilização penal e aprofunda o sofrimento das famílias.

Segundo a Polícia Civil de Mato Grosso, esse tipo de prática costuma ocorrer após crimes violentos, quando os responsáveis tentam eliminar vestígios. Delegados envolvidos nas apurações relatam que valas improvisadas e outros métodos de ocultação são usados com o objetivo de impedir a identificação das vítimas e das circunstâncias dos assassinatos.

Um dos casos investigados ocorreu no início do ano, quando cinco trabalhadores vindos do Maranhão desapareceram após serem levados de um alojamento em Cuiabá. As apurações indicaram que eles foram mortos, embora apenas parte dos corpos tenha sido encontrada. A polícia afirmou que as vítimas não tinham ligação com o crime organizado.

Outro inquérito em andamento envolve o desaparecimento de três jovens no Rio Grande do Sul. Eles saíram de um encontro social após receberem uma ligação e não foram mais vistos. O caso passou a ser tratado como homicídio, mesmo sem a localização dos corpos, e resultou na denúncia de sete suspeitos pelo Ministério Público estadual.

O delegado da Polícia Civil de Mato Grosso, Caio Albuquerque, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá

Também em Mato Grosso, dois irmãos adolescentes desapareceram após serem capturados por integrantes de uma facção criminosa. Dias depois, os corpos foram localizados, e o caso gerou forte comoção local. A investigação aponta que a motivação estaria ligada a suspeitas de envolvimento com grupos rivais, hipótese que segue sob apuração.

Autoridades afirmam que o uso de cemitérios clandestinos é uma estratégia recorrente de organizações criminosas para impor controle territorial e intimidar comunidades. A ausência dos corpos dificulta a produção de provas e prolonga o tempo das investigações, além de impactar diretamente os registros oficiais de mortes.

Diante desse cenário, o Ministério Público Federal solicitou a criação de um grupo de trabalho para mapear valas e cemitérios ilegais usados por facções, especialmente em regiões metropolitanas com histórico de disputas entre grupos criminosos.

Especialistas em segurança pública avaliam que o mapeamento dessas áreas pode contribuir para a localização de vítimas desaparecidas e para o fortalecimento das investigações. O avanço dessas apurações é considerado fundamental para enfrentar a atuação das facções e reduzir a impunidade associada a crimes de ocultação de cadáver.