“Censura” e “prisões ilegais”: a nova justificativa do governo Trump sobre o tarifaço

Atualizado em 15 de outubro de 2025 às 17:09
Jamieson Greer, representante comercial dos EUA. Foto: Tom Williams

Um dia antes de se reunir com o chanceler brasileiro Mauro Vieira, o representante comercial dos Estados Unidos, Jamieson Greer, justificou nesta quarta-feira (15) a sobretaxa de 40% imposta ao Brasil. Em entrevista coletiva em Washington, Greer citou “preocupações extremas com o Estado de Direito, a censura e os direitos humanos” no país.

Apesar da tensão comercial entre as duas nações, um encontro bilateral está marcado para quinta-feira (16), conforme anunciou o presidente Lula (PT), quando Vieira se encontrará com Greer e o secretário de Estado, Marco Rubio.

As declarações do representante comercial refletem argumentos semelhantes aos usados por figuras ligadas ao bolsonarismo, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o comentarista Paulo Figueiredo. Ambos têm defendido em Washington que o governo estadunidense adote medidas contra o Brasil para pressionar pela anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados, condenados por tentativa de golpe de Estado e outros crimes.

Desde julho, o governo de Donald Trump vem adotando ações contra autoridades brasileiras, citando a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) em casos envolvendo fake news e decisões de moderação de conteúdo por big techs.

Questionado sobre a origem das tarifas, Greer explicou que o Brasil é alvo de dois regimes distintos. “Existem dois regimes de tarifas em vigor sobre o Brasil: a de tarifas recíprocas, de 10%, que todo mundo tem, que tenta controlar o problema do déficit comercial global, que é um problema grande para gente”, disse.

“E há os 40% de uma lei de emergência separada, que está relacionada a extremas preocupações com o Estado de Direito, censura e Direitos Humanos no Brasil, onde um juiz tomou para si a responsabilidade de ordenar que empresas dos EUA se autocensurem, dando-lhes ordens secretas para gerenciar o fluxo de informações, o Estado de Direito de oponentes políticos no Brasil”, concluiu.

Embora Greer não tenha citado nomes, a fala é interpretada como referência ao ministro Alexandre de Moraes, relator de processos no STF envolvendo as plataformas X e Rumble e responsável pelo inquérito das fake news. Moraes também foi alvo de sanções financeiras impostas pelo governo Trump, sob a Lei Global Magnitsky, que prevê punições a autoridades estrangeiras acusadas de violar direitos humanos. As medidas incluem restrições de visto e bloqueio de bens.

Donald Trump e Jamieson Greer. Foto: reprodução

 

Durante a coletiva, o secretário do Tesouro estadunidense, Scott Bessent, acrescentou um novo argumento para justificar as tarifas. “A detenção ilegal de cidadãos americanos no Brasil”, afirmou, em referência ao episódio envolvendo Jason Miller, ex-assessor de Trump e então CEO da rede GETTR, detido por algumas horas no aeroporto de Brasília em 2021.

Miller foi ouvido pela Polícia Federal no inquérito das fake news e, desde então, tornou-se um dos principais defensores de sanções contra o Brasil.

A sobretaxa de 40% e as sanções impostas a autoridades brasileiras serão os principais temas da reunião entre Mauro Vieira, Marco Rubio e Greer.

O encontro marca a primeira rodada formal de negociações desde que Trump iniciou uma aproximação com o governo Lula, após meses de atritos e medidas punitivas. Apesar da tentativa de distensão, o tom da coletiva de Greer evidencia que parte da administração estadunidense ainda mantém uma postura de pressão sobre o Brasil.

Poucas horas após a fala do representante comercial, Eduardo Bolsonaro compartilhou o vídeo da coletiva nas redes sociais, afirmando que o governo Trump “fala uma linguagem única sobre o Brasil”. “Se a velha imprensa brasileira rotula Marco Rubio de ideológico, conclui-se que a equipe de comércio, neste vídeo, é a pragmática, certo?”, escreveu o deputado.

Em outra publicação, defendeu a aprovação da anistia: “A melhor solução é parar a perseguição nos tribunais, aprovar a anistia no Congresso e virar esta página, então a situação se normalizará”.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.