Censura nas universidades mostra que Judiciário embarcou no “Escola sem Partido”. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 27 de outubro de 2018 às 13:46
Protesto contra censura na UFF (Foto: Reprodução/Twitter)

Publicado originalmente no perfil do autor no Facebook

POR LUIS FELIPE MIGUEL, professor da UnB

As ações de censura nas universidades mostram como, na larga fatia do Judiciário colonizada pela extrema-direita, penetrou a ideologia nefasta do chamado “Escola Sem Partido”. A educação não pode ter discussão, não pode ter reflexão crítica, não pode incidir no mundo. Tem que ser “neutra” – e a neutralidade mais perfeita, para eles, é a mudez.

Mas, como já perguntavam os grandes educadores, incluído aí Paulo Freire, o silêncio diante da injustiça e da violência é neutralidade ou cumplicidade?

A inusitada investida contra Roger Waters revela que essa mentalidade se expande para além das próprias instituições de ensino. O juiz devia proibir o show logo de vez; afinal, canções sobre opressão ou sobre produção social do conformismo também podem fazer alguém pensar e mudar um voto, não é mesmo? No limite, durante a campanha eleitoral só serão permitidos a propaganda ou o silêncio, já que qualquer tentativa de debate é enquadrada como propaganda ilegal.

Não é por acaso que tudo isso surge como tentativa de impulsionar um candidato cuja estratégia consistiu basicamente em fugir do debate. E não é só Bolsonaro. Na reta final da campanha, as ruas foram tomadas pela militância a favor de Haddad, que foi conversar com as pessoas, tirar dúvidas, desfazer equívocos, comparar propostas, apresentar argumentos. E os mínions? Ficaram escondidos atrás de seus celulares, replicando os memes e os vídeos disparados pelo comando da campanha e bloqueando quem discordasse.

A interdição do debate político, sua substituição pelo grito unânime da manada: essa é também uma das características do fascismo.