Centrão admite desgaste e abandona ofensiva por anistia após confissão de Bolsonaro

Atualizado em 23 de novembro de 2025 às 9:49
Mensagem de “Sem Anistia” ao fundo de um discurso de Bolsonaro. Foto: reprodução

A divulgação do vídeo em que Jair Bolsonaro (PL) admite ter usado um “ferro quente” para tentar violar sua tornozeleira eletrônica caiu como uma bomba no Congresso e já altera os cálculos políticos sobre a anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de Janeiro.

Integrantes do centrão afirmam que o episódio deve dificultar não apenas o avanço do projeto de lei da anistia, mas também qualquer discussão sobre redução de penas, tema que vinha sendo articulado por aliados do ex-presidente.

Parlamentares ouvidos pela reportagem afirmam que havia expectativa de que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), retomasse o debate nos próximos dias.

Segundo a Folha de S.Paulo, interlocutores afirmam que o relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP) preparava ajustes no texto e discutiria o novo formato com líderes partidários. Na manhã deste sábado (22), antes da repercussão do vídeo, Paulinho disse à Folha que a prisão preventiva de Bolsonaro poderia dar “novo impulso” ao projeto e “facilitaria a negociação da dosimetria”.

Mas o cenário mudou rapidamente. A gravação, divulgada à tarde, mostra Bolsonaro afirmando que começou a queimar o equipamento “no final da tarde” e que usou um “ferro de soldar” para tentar abrir o case da tornozeleira.

Para a cúpula da Câmara, o vídeo derrubou a versão de que a violação seria uma “narrativa” construída por adversários e passou a evidenciar o risco de fuga apontado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao decretar a prisão preventiva.

Um integrante influente do centrão, sob reserva, afirmou que o ambiente já era difícil para aprovar a anistia, mas agora se tornou “impossível”. Segundo ele, não há clima para negociar nem anistia nem dosimetria, alternativa que vinha sendo considerada por deputados que rejeitavam o perdão amplo, mas admitiam reduzir penas de manifestantes com participação secundária.

Outra liderança da Câmara avalia que Hugo Motta não deverá pautar o projeto na próxima semana. A análise é de que insistir no tema agora poderia ser interpretado como afronta direta ao Supremo Tribunal Federal e, além disso, gerar desgaste político junto à opinião pública, já mobilizada pela repercussão das imagens.

Um dirigente de partido de centro confirma que a discussão não deverá prosperar imediatamente, mas pondera que o debate pode voltar mais adiante, desde que restrito à dosimetria das penas e sem qualquer benefício ao núcleo central da trama golpista, do qual Bolsonaro faz parte, segundo decisão do STF. Mesmo assim, governistas reconhecem que a oposição deverá elevar a pressão.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.