
A divulgação do vídeo em que Jair Bolsonaro (PL) admite ter usado um “ferro quente” para tentar violar sua tornozeleira eletrônica caiu como uma bomba no Congresso e já altera os cálculos políticos sobre a anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de Janeiro.
Integrantes do centrão afirmam que o episódio deve dificultar não apenas o avanço do projeto de lei da anistia, mas também qualquer discussão sobre redução de penas, tema que vinha sendo articulado por aliados do ex-presidente.
Parlamentares ouvidos pela reportagem afirmam que havia expectativa de que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), retomasse o debate nos próximos dias.
Segundo a Folha de S.Paulo, interlocutores afirmam que o relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP) preparava ajustes no texto e discutiria o novo formato com líderes partidários. Na manhã deste sábado (22), antes da repercussão do vídeo, Paulinho disse à Folha que a prisão preventiva de Bolsonaro poderia dar “novo impulso” ao projeto e “facilitaria a negociação da dosimetria”.
Mas o cenário mudou rapidamente. A gravação, divulgada à tarde, mostra Bolsonaro afirmando que começou a queimar o equipamento “no final da tarde” e que usou um “ferro de soldar” para tentar abrir o case da tornozeleira.
Bolsonaro tentou arrancar a tornozeleira com ferro quente. Alguém ainda acha que ele não iria tentar fugir? Que a prisão foi “sem motivo”? pic.twitter.com/juCKXnfA4u
— Guilherme Boulos (@GuilhermeBoulos) November 22, 2025
Para a cúpula da Câmara, o vídeo derrubou a versão de que a violação seria uma “narrativa” construída por adversários e passou a evidenciar o risco de fuga apontado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao decretar a prisão preventiva.
Um integrante influente do centrão, sob reserva, afirmou que o ambiente já era difícil para aprovar a anistia, mas agora se tornou “impossível”. Segundo ele, não há clima para negociar nem anistia nem dosimetria, alternativa que vinha sendo considerada por deputados que rejeitavam o perdão amplo, mas admitiam reduzir penas de manifestantes com participação secundária.
Outra liderança da Câmara avalia que Hugo Motta não deverá pautar o projeto na próxima semana. A análise é de que insistir no tema agora poderia ser interpretado como afronta direta ao Supremo Tribunal Federal e, além disso, gerar desgaste político junto à opinião pública, já mobilizada pela repercussão das imagens.
Um dirigente de partido de centro confirma que a discussão não deverá prosperar imediatamente, mas pondera que o debate pode voltar mais adiante, desde que restrito à dosimetria das penas e sem qualquer benefício ao núcleo central da trama golpista, do qual Bolsonaro faz parte, segundo decisão do STF. Mesmo assim, governistas reconhecem que a oposição deverá elevar a pressão.