“Chá de camomila”: Itamaraty se nega a responder provocação de Maduro

Atualizado em 23 de julho de 2024 às 23:19
Maduro e Lula conversando, de perfil
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente do Brasil, Lula – Reprodução

O Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, anunciou na noite desta terça-feira (23) que não irá comentar as declarações provocativas do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, direcionadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PL).

Na segunda-feira (22), o petista expressou sua preocupação com a ameaça feita pelo venezuelano, que afirmou em um discurso que haveria um “banho de sangue” na Venezuela caso ele não vencesse a eleição marcada para o sábado (27).

Em resposta, Maduro afirmou nesta terça-feira que quem estivesse assustado deveria tomar um chá de camomila. “Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila”, declarou Maduro, sem mencionar diretamente o nome de Lula.

Embora o Itamaraty tenha optado por não comentar oficialmente, a diplomacia brasileira interpretou a declaração de Maduro como um sinal de fraqueza. “Você já viu candidato ganhador com essa atitude na véspera de eleição?”, questionou um diplomata sob condição de anonimato, segundo o g1.

No Palácio do Planalto, a reação também foi de desconforto e constrangimento com as declarações do presidente venezuelano às vésperas do pleito. O governo brasileiro enviará a Caracas dois observadores do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, para acompanhar o processo eleitoral.

Desde o início de seu mandato, no ano passado, Lula buscou criar pontes de diálogo com Maduro e reintegrar a Venezuela ao continente. Diferentemente de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), o petista mantém uma linha de comunicação com ele e evita condenar abertamente as atitudes antidemocráticas do governo venezuelano.

Segundo interlocutores do governo, a estratégia é influenciar a retomada da democracia na Venezuela sem criar grandes atritos políticos ou isolar o país de Maduro do restante do continente.

O objetivo do governo brasileiro é garantir que as eleições na Venezuela sejam democráticas e transparentes. No entanto, Maduro tomou medidas que desagradaram o Palácio do Planalto. O comitê eleitoral venezuelano desqualificou duas opositoras: Maria Corina Machado, desqualificada pela Controladoria da Venezuela, e Corina Yoris, que não conseguiu acessar o sistema automatizado do CNE por razões não especificadas.

Essas ações foram interpretadas pelo Brasil e pela comunidade internacional como uma interferência política no processo eleitoral.

Além disso, a ameaça de “banho de sangue” caso Maduro não vença gerou mais preocupações. A diplomacia brasileira tem lembrado à Venezuela da importância de cumprir o Acordo de Barbados, firmado entre o governo venezuelano e a oposição, com a mediação da Noruega.

Este acordo, estabelecido em 2019, visa resolver a crise política na Venezuela por meio de eleições livres e justas, levantamento de sanções internacionais e condições equitativas de participação política.

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