Chá-revelação de Nikolas ocorreu em local de torturas na ditadura

Atualizado em 18 de setembro de 2023 às 13:15
Nikolas Ferreira (PL-MG) e a esposa, Lívia. Foto: Reprodução

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) escolheu uma área militar usada durante a ditadura para tortura como local do evento para revelar o sexo do seu filho. O chá-revelação, que teve a participação do jogador Neymar Jr., ocorreu na semana passada, no Forte São Francisco Xavier da Barra, no 38º Batalhão de Infantaria, em Vila Velha (ES). A informação é do Estadão.

O local foi usado no período para torturar presos políticos, como a jornalista Míriam Leitão, mas se tornou recentemente um espaço de eventos luxuosos. Militares vêm tentando ressignificar a área e “reaproximar o espaço da sociedade”.

O forte foi construído por volta de 1700 e tem uma vista panorâmica da Baía de Vitória. Alguns eventos esporádicos são realizados desde os anos 2000, mas a reabertura para o público é recente.

Uma empresa de siderurgia trabalhou no local há cerca de quatro meses. O espaço foi disponibilizado para festividades e visitas turísticas podem ser agendadas, mas não há uma tabela de preço para cada evento, que é avaliado individualmente.

Forte São Francisco Xavier da Barra, no 38º Batalhão de Infantaria, em Vila Velha (ES). Foto: Divulgação/Exército

Grávida de um mês, Míriam Leitão foi torturada quando tinha 19 anos no 38º Batalhão de Infantaria. Ela teve que ficar nua em frente a dez soldados e três agentes da repressão, e foi colocada em uma sala escura junto de uma jiboia.

“Eu não conseguia ver nada, estava tudo escuro, mas sabia que a cobra estava lá. A única coisa que lembrei naquele momento de pavor é que cobra é atraída pelo movimento. Então, fiquei estática, silenciosa, mal respirando, tremendo. Eu não tinha noção de dia ou noite na sala escurecida pelo plástico preto. E eu ali, sozinha, nua. Só eu e a cobra. Eu e o medo”, contou em entrevista ao “Observatório da Imprensa” em 2014.

A então estudante de Medicina Maria Magdalena Frechiani também foi torturada no espaço. Ela estava grávida na ocasião e já contou que era acompanhada por dois militares e dois cães treinados para o ataque quando ia ao banheiro.

O batalhão ainda foi usado para intercâmbio de repressores do Espírito Santo com os de São Paulo. Militantes presos em 1971 foram recolhidos por agentes do Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Ordem Interna (DOI-Codi).

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