
Em editorial publicado nesta terça-feira (2), o Estadão afirmou que a chantagem política de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) rebaixa o Senado e expõe o grau de degradação institucional provocado pelo presidente da Casa. Segundo o jornal, Alcolumbre distorce fatos, age movido por interesses pessoais e transforma a sabatina de Jorge Messias em instrumento de pressão contra o governo Lula. Confira:
A malcriada Nota à Imprensa divulgada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, no domingo passado, escala a crispação entre Poderes instalada em Brasília desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ao acusar “setores do Poder Executivo” de criar “a falsa impressão” de que as divergências entre Poderes se resolvem por “ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas”, Alcolumbre não só agravou um conflito de resto inútil para o País, como tentou reescrever uma história da qual, convenhamos, ele mesmo é protagonista. (…)
Ao tratar como “falsa” a impressão de que negociações de cargos e emendas influenciam seus movimentos, o senador amapaense esbofeteia os fatos e caçoa da inteligência alheia. Ora, não há padrinho em Brasília com tantos afilhados em postos-chave da administração pública como ele, em todos os escalões. (…)
O que mais preocupa, no entanto, é a contaminação de um processo constitucional que deveria ser conduzido com sobriedade e espírito público: a escolha do novo ministro da mais alta instância judicial do País. Ao operar na base da chantagem política – na qual a aprovação ou rejeição de Messias é percebida como corolário de sua vontade pessoal –, Alcolumbre já conspurcou a sabatina antes mesmo de a primeira pergunta ser feita ao indicado pelo presidente da República. (…)
A escolha de um ministro do STF sempre envolve lobbies, e seria ingênuo supor o contrário. Mas o País perde quando a avaliação das credenciais de um indicado é superada por uma guerra de vaidades. Messias, goste-se ou não de sua indicação, merece uma sabatina republicana. (…)
(…) Além de imprópria, a nota de Alcolumbre reforça a impressão – esta, sim, verdadeira – de que interesses privados seguem orientando decisões que deveriam servir à Nação, e não a projetos pessoais de poder.
