Chávez foi odiado pelas suas virtudes

Atualizado em 7 de março de 2013 às 18:55

Ele teve um papel central no que pode ser definido como segunda independência da América do Sul.

Os venezualanos se despedem de Chávez em Caracas
Os venezualanos se despedem de Chávez em Caracas

O artigo abaixo, publicado originalmente no site Common Dreams, foi escrito por Mark Weisbrot, diretor do Centro de Pesquisa  e Política Econômica, baseado em Washington.

Bertrand Russell escreveu uma vez sobre o revolucionário americano Thomas Paine: “Ele tinha defeitos, como os outros homens, mas era por suas virtudes que ele foi odiado e caluniado com sucesso.”

Isto foi certamente verdade para Hugo Chávez Frias, que foi provavelmente mais demonizado do que qualquer presidente eleito democraticamente na história do mundo. Mas ele foi repetidamente reeleito por ampla margem, e será lamentado não só pelos venezuelanos, mas por muitos latino-americanos que reconhecem o que ele fez para a região.

Chávez sobreviveu a um golpe militar apoiado por Washington e a greves de petróleo que prejudicaram  a economia. Mas, uma vez que ele teve o controle da indústria do petróleo, o governo reduziu a pobreza pela metade e a pobreza extrema em 70 por cento.

Milhões de pessoas também tiveram cuidados de saúde pela primeira vez, e o acesso à educação também aumentou drasticamente, com a duplicação das inscrições nas faculdades e ensino gratuito para muitos. A elegibilidade para pensões públicas triplicou. Ele manteve sua promessa de campanha de compartilhar a riqueza petrolífera do país com a maioria da Venezuela, e isso fará parte de seu legado.

Também pertence ao legado de Chávez a segunda independência da América Latina e, especialmente, da América do Sul, que agora é mais independente dos Estados Unidos do que a Europa. Claro que isso não teria acontecido sem amigos próximos de Chávez e aliados: Lula no Brasil, os Kirchners na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador,  e outros.

Mas Chávez foi o primeiro dos presidentes democraticamente eleitos de esquerda nos últimos 15 anos,  e ele desempenhou um papel muito importante:  veja o que esses colegas estão dizendo dele, e estes depoimentos  serão muito mais importantes do que a maioria dos obituários, anti-obituários e comentários da mídia.

Esses governos de esquerda também têm feito avanços consideráveis ​​na redução da pobreza, no aumento do emprego e na melhora dos padrões de vida em geral – e seus partidos  também têm sido continuamente reeleitos.

Para esses outros líderes democráticos, Chávez é visto como parte de uma revolta nas urnas que transformou a América do Sul e aumentou as oportunidades  de participação política de maiorias e minorias excluídas anteriormente.

A continuidade do chavismo na Venezuela é a hipótese mais provável, uma vez que o seu partido político tem mais de 7 milhões de membros e demonstrou a sua capacidade de vencer as eleições sem ele fazer campanha em dezembro. Nas eleições locais, a situação venceu em 20 dos 23 estados venezuelanos .

As relações com os Estados Unidos não devem  melhorar. O Departamento de Estado e o próprio presidente Obama fizeram uma série de declarações hostis durante os últimos meses de Chávez, o que indica que não importa o que o próximo governo (presumivelmente sob Nicolas Maduro) faça, não há muito interesse da parte de Washington em melhorar as relações.

A homenagem de Carlos Latuff ao El Comandante.

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