Chefe da Funai foi aliado de invasores de terra indígena no MT. Por Poliana Dallabrida

Atualizado em 29 de julho de 2020 às 20:24

Publicado no De Olho nos Ruralistas

POR POLIANA DALLABRIDA

Isolado após contrair Covid-19, o delegado da Polícia Federal Marcelo Augusto Xavier da Silva completou na sexta-feira (24) um ano na presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai). Uma gestão marcada pelo aumento da violência contra indígenas, por taxas recorde de desmatamento, invasões em grande escala nos territórios e pela submissão do órgão a interesses do agronegócio.

Nos 365 dias em que esteve à frente da Funai, ele seguiu à risca a promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro de não demarcar “nenhum centímetro” de terra indígena e não deu sequência a nenhum processo de homologação de Terras Indígenas (TIs). Mais: o órgão vem desistindo de processos de demarcações em disputa na Justiça, mesmo quando há decisão favorável aos indígenas em instâncias anteriores.

Enquanto isso, a pandemia do novo coronavírus já atingiu quase 20 mil indígenas de 145 etnias, com um saldo de 590 mortos, conforme os dados da Articulação Indígena dos Povos do Brasil (Apib).

De Olho nos Ruralistas conta, em sete pontos, quais os motivos que fazem da gestão de Marcelo Xavier um símbolo da desarticulação da política indigenista no governo Bolsonaro. Ele é o segundo personagem da série Esplanada da Morte, que destaca o papel de cada ministro (ou secretário, no caso o presidente de uma fundação) na política genocida de Jair Bolsonaro.

Em meio aos sete pontos, uma revelação: Marcelo Xavier trocou telefonemas com invasores da TI Marãiwatsédé, no Mato Grosso, durante o período em que trabalhava no processo de desintrusão da terra indígena, em 2014. Um procurador que atuava no caso conta que o atual chefe da Funai era um aliado dos grileiros. E, por isso, foi afastado das investigações.

O primeiro a ser retratado na série foi o ministro da Economia, Paulo Guedes: “Esplanada da Morte (I): o papel de Paulo Guedes na implosão de direitos e na explosão da pandemia“. A conexão entre os temas é direta: o Decreto 9.711/2019, mencionado na reportagem inicial da série, contingenciou em 90% o orçamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), que passou a atuar com cerca de um terço de sua força de trabalho.

NÚMERO DE ASSASSINATO DE INDÍGENAS É O MAIOR EM DEZ ANOS

Desde julho de 2019, Marcelo Xavier assiste passivamente à escalada da violência e do desmatamento em territórios indígenas. No ano passado, uma a cada três famílias vítimas de conflitos no campo era indígena e sete líderes foram assassinados no Amapá, Amazonas e Maranhão. É o maior número de assassinatos de indígenas dos últimos dez anos, de acordo com o caderno Conflitos no Campo 2019, da Comissão Pastoral da Terra (CPT).