Chefe de quadrilha: Moro comete erro estratégico ao sugerir processo contra presidente da OAB. Por Moisés Mendes

Atualizado em 9 de agosto de 2019 às 8:30
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

PUBLICADO NO BLOG DE MOISÉS MENDES

POR MOISÉS MENDES

Sergio Moro pode ter cometido um erro estratégico, com mais uma barbeiragem política. Ao recorrer ao Ministério Público para que o presidente da OAB seja processado por ter dito que ele agia como “chefe de quadrilha”, o ex-juiz provoca uma reação imediata.

A reação é que mais vozes, em várias áreas, repetem que ele se comportava mesmo como chefe de quadrilha, quando passou a telefonar para autoridades e dizer que sabia das mensagens apreendidas com os hackers de Araraquara e que iria tratar de eliminá-las. Sumariamente.

Se processar Felipe Santa Cruz, Moro terá de abrir processos contra dezenas, talvez centenas ou milhares de pessoas. Quanto mais insistir no processo contra o líder dos advogados (o que é um direito do ex-juiz), mais irá provocar o jogral.

Lembremos que Moro era chefe de Dallagnol (pelo menos agia como chefe na Lava-Jato), quando Dallagnol acusou Lula de ser chefe de quadrilha, no famoso powerpoint infantil com as bolinhas azuis. Lula tentou processar o procurador por danos morais.

Um juiz de primeira instância decidiu que não houve dano, que Dallagnol podia chamar Lula de chefe de quadrilha. Era uma convicção, sem provas, tanto que a acusação não constou do processo do tríplex do Guarujá.

Mas o procurador que pretendia ficar rico com palestras podia dizer o que bem entendesse. E pronto.

É possível que aconteça o mesmo agora e o processo de Moro não resulte em nada? Ou o dano moral sofrido pelo pessoal da Lava-Jato é mais danoso do que a afronta contra um ex-presidente?

A moral da direita sempre tem a pretensão de ser mais moral do que a das esquerdas.

Pois muita gente acha que, fora a controvérsia jurídica, as mensagens trocadas entre Moro e Dallagnol são imorais. É o que eu também acho. Mas a moral deles tem privilégios e a imoralidade tem imunidade.