
Chico Buarque no palanque foi o grande momento da manifestação no Rio de Janeiro.
Chico fez uma fala rápida, porém contundente, e foi didático ao explicar o ponto que unia aquelas milhares de pessoas no Largo da Carioca e outras tantas milhares em todo o país: nenhuma delas pode por em dúvida a integridade da presidente Dilma Rousseff.
“Portanto, é claro que estamos todos aqui unidos pelo apreço à democracia e em defesa intransigente da democracia. (…) Eu vejo gente aqui no palanque, na praça, gente da minha geração que viveu 31 de março de 1964, mas vejo, sobretudo, uma imensa juventude que não era então nem nascida, mas conhece a história do Brasil. Então, estou aqui para agradecer a vocês que me animam a acreditar que não, de novo, não. Não vai ter golpe”.
Chico parecia alegre, cheio de esperança, mas a verdade é que ainda ninguém sabe se a história se repetirá como golpe ou farsa. O que fica cada vez mais evidente é que não será fácil pra ninguém.
Que Temer é uma das figuras mais odiosas da república, e disputa esse título cartaz a cartaz com Eduardo Cunha.
Já Aécio, se saiu enxotado da passeata coxa, nessa quase não foi lembrado. Foi visto apenas pilotando um helicóptero de papelão, em homenagem ao famoso Helicoca, de propriedade do seu amigo Zezé Perrela. Ainda assim, por onde o adereço passava, o que mais se ouvia eram críticas e ironias à parcialidade do poder judiciário, encarnada na figura do juiz Sérgio Moro.
O partido político mais criticado foi também o de Cunha e Temer: “O sonho de todo militante da nossa época é tirar o PMDB do poder”, cravou a policial civil Denise, de um coletivo feminista.
No quesito pessoa jurídica detestável, nada chegou perto da Globo.
Eram centenas de faixas e cartazes sobre a emissora carioca com os mais variados adjetivos: golpista, sonegadora, apoiadora de ditaduras…
Os estudantes secundaristas Lucca e Alice lembraram de Erick Bretas, o jornalista diretor da Globo que usou foto de Moro no avatar do Facebook: “Quando um diretor de mídias é garoto-propaganda do golpe já fica claro o que é a Globo: uma vergonha nacional, com um presente que a condena e um passado mais ainda”.
Havia muitos jovens estudantes na manifestação no Rio, mas também idosos aposentados e famílias de várias cores, gêneros e performances. Crianças eram poucas, talvez pelos pais temerem o comportamento da PM.
Grupos de teatro, trupes circenses e bandas marciais se apresentavam em ruas paralelas ao palco principal, e tudo se fez silêncio apenas quando Chico Buarque foi ouvido, e Chico também falou em golpe.
A palavra mais presente foi mesmo “golpe” p, seguida de perto por “democracia” e “luta”. Unidas em frases diversas, parecem tentar capturar o espírito do tempo, antes que aqueles que hostilizaram Chico Buarque na saída de um restaurante se tornem os representantes maiores desse tempo.
“Você é um merda, petista ladrão, vai pra Cuba”, gritaram, porém, não passarão. Não para contar a história com exclusividade na Globo.
A história já não pertence a eles nem à Globo. Pertence às ruas, está nas redes, e amanhã há de ser outro dia, bem diferente de 1º de abril de 1964.