Chile registra a maior manifestação desde o fim da ditadura com 1 milhão nas ruas

Atualizado em 25 de outubro de 2019 às 22:51
Praça Itália tomada por manifestantes nesta sexta-feira (25) / AFP

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

Santiago, capital do Chile, assistiu na tarde desta sexta-feira (25) à maior manifestação de rua desde o fim da ditadura militar, em 1990: mais de um milhão de pessoas se reuniram na Praça Itália, região central, em um ato que é considerado o ápice da onda de protestos contra o neoliberalismo, iniciada na última semana.

As manifestações começaram há oito dias, com o anúncio de um aumento de cerca de 20 centavos nas passagens de metrô. A revolta foi tão grande que o presidente Sebastián Piñera voltou atrás, mas os protestos continuaram, e com uma pauta mais ampla. Os objetos de reclamação passaram a ser o alto preço dos serviços básicos, de modo geral, privatizados, e a violência policial – um dos legados da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Analistas políticos apontam que essa série de protestos expôs a ferida da desigualdade social no Chile, muitas vezes oculta sob a propaganda de eficiência do Estado e de estabilidade econômica. Os manifestantes reclamam do alto custo de vida, dos baixos salários e aposentadorias, além de questionar a dificuldade de acesso aos sistemas de saúde e educação.

Duramente reprimida pelos carabineros –– polícia militar chilena – e pelo Exército, a onda de protestos resultou em 19 mortos, 2,8 mil detidos e 295 feridos por armas de fogo.

Dia agitado

As estradas que dão acesso a Santiago amanheceram tomadas por caminhoneiros, taxistas, motoristas de carros particulares e motociclistas em protesto contra o aumento dos pedágios. Anualmente, as concessionárias reajustam o preço do pedágio devido à fórmula prevista nos contratos, que prevê um fixo de 3,5% mais a inflação acumulada. Isso possibilitou que as operadoras das rodovias da região metropolitana de Santiago aumentassem o valor em 6,4%.

O TAG-Televia, sistema de pedágio usado no Chile, é semelhante ao Sem Parar, de São Paulo, em que o motorista pode passar pela praça e tem descontado o valor correspondente de maneira automática. A diferença, no Chile, é que o preço varia de acordo com o movimento da estrada e o momento do dia.

A 130 km dali, em Valparaíso, cidade portuária, os carabineros reprimiram pela manhã, com bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água, uma manifestação em torno do Congresso Nacional. Um grupo de cerca de 25 manifestantes conseguiu atravessar as grades do edifício, mas foi detido ainda nos jardins do Parlamento e não entrou no prédio.

Os parlamentares foram evacuados por precaução.

Diante da magnitude do protesto da Praça Itália e considerando os altos índices de violência policial, Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e atualmente alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, disse que enviará na próxima segunda-feira (28) uma missão de verificação para acompanhar os conflitos no país e examinar denúncias de violações dos direitos humanos.

Com informações de La Tercera, Agência Brasil e Opera Mundi.