
O Chile realiza neste domingo (14), o segundo turno das eleições presidenciais que definirão o próximo presidente do país. A disputa coloca frente a frente o candidato de direita José Antonio Kast e a candidata de esquerda Jeannette Jara, em uma campanha marcada pelo debate sobre criminalidade e imigração irregular.
De acordo com a agência France Presse, pesquisas divulgadas nos últimos dias indicam vantagem de Kast sobre Jara. Desde 2010, o cenário político chileno tem sido marcado pela alternância entre governos de direita e de esquerda a cada eleição presidencial.
Jeannette Jara integrou o governo do atual presidente Gabriel Boric, de centro-esquerda, como ministra do Trabalho. Ela venceu o primeiro turno, mas o desempenho conjunto das candidaturas de direita superou 50% dos votos, impulsionado por propostas voltadas à segurança pública.
Apesar de o Chile ainda figurar entre os países mais seguros da América Latina, a percepção de insegurança cresceu. Segundo levantamento do Ipsos, 63% da população apontam a criminalidade como principal preocupação. Em dez anos, os homicídios aumentaram 140%, e o país registrou 868 sequestros em 2024, alta de 76% em relação a 2021.
José Antonio Kast, de 59 anos, lidera o Partido Republicano e defende uma política de endurecimento contra o crime. Ele promete reforçar o poder das forças de segurança e utilizar militares em áreas consideradas críticas. Caso eleito, será o presidente mais à direita desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990.

Entre as propostas de Kast está a criação de um “escudo fronteiriço”, com a construção de um muro na fronteira com a Bolívia, abertura de trincheiras e mobilização de cerca de 3.000 militares para conter a imigração irregular. O candidato afirma que pretende deter e expulsar aproximadamente 340 mil imigrantes sem documentos.
Jeannette Jara, de 51 anos, é filiada ao Partido Comunista e tem como uma de suas principais propostas elevar o salário mínimo para quase US$ 800, cerca de US$ 250 a mais que o valor atual. Na área migratória, defende o controle das entradas clandestinas e a realização de um censo para identificar imigrantes sem documentos, com foco na expulsão daqueles com antecedentes criminais.
Como ministra, ela esteve à frente da redução da jornada de trabalho de 45 para 40 horas semanais e participou da formulação de uma reforma no sistema de aposentadorias, medidas que ampliaram sua projeção política. Ainda assim, enfrentou resistências internas e externas, incluindo críticas por sua posição em relação a regimes como os da Venezuela, Cuba e Nicarágua.
Segundo o analista Alejandro Olivares, da escola de Governo da Universidade do Chile, o fator ideológico pesou na campanha. “Há um fantasma (de anticomunismo) que sempre acompanha qualquer candidatura comunista e, efetivamente, pesou muito para Jara”, afirmou à AFP.