China convoca embaixador americano como protesto contra sanções anunciadas pelo governo Trump

Atualizado em 15 de julho de 2020 às 18:27
(Photo by Fred DUFOUR / AFP)

Publicado originalmente no site da RFI

A China convocou na quarta-feira (15) o embaixador dos Estados Unidos em protesto contra as sanções anunciadas por Washington em resposta à repressão exercida por Pequim em Hong Kong. O ministério de Assuntos Exteriores chinês prometeu retaliações.

“Para proteger seus interesses legítimos, a China dará a resposta necessária e vai impor sanções às pessoas e às entidades americanas envolvidas”, alertou horas antes da convocação do embaixador americano o ministério chinês de Assuntos Exteriores, em um comunicado. “Trata-se de uma ingerência flagrante nos assuntos de Hong Kong e nos assuntos interiores da China”, afirma o documento.

A reação de Pequim chega um dia depois de Donald Trump anunciar o fim do regime econômico preferencial acordado pelos Estados Unidos a Hong Kong. O presidente americano também assinou uma lei que prevê sanções contra a “repressão” no território chinês.

Pressão

Washington aumentou a pressão sobre Pequim nos últimos dias, após a adoção, no fim de junho, pela China, da Lei de segurança nacional em Hong Kong.

“Hoje eu assinei uma lei e um decreto para responsabilizar a China pela repressão da população de Hong Kong”, declarou o presidente americano durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca, na terça-feira (14).

O decreto coloca fim ao tratamento preferencial dado a Hong Kong. Um regime especial que permitiu à ex-colonia britânica se transformar em um dos principais polos econômicos mundiais. “Hong Kong será tratado como a China: sem privilégio especial, sem tratamento econômico especial e sem exportações de tecnologias sensíveis”, indicou Donald Trump.

O decreto presidencial prevê a revogação de isenções de licenças para exportações para Hong Kong e o fim do tratamento especial para as pessoas com um passaporte do território.

Trump disse que o controle exercido por Pequim sobre Hong Kong marca o fim da potência econômica da ex-colônia britânica. “Nós perdemos um concorrente importante”, acrescentou, prevendo uma fuga de cérebros de Hong Kong. “A liberdade deles foi retirada […], muitos vão ir embora”, afirmou o presidente americano.

Sanções

Trump também assinou uma lei sobre a autonomia de Hong Kong que prevê sanções contra a repressão no território chinês. Esta lei “dá a minha administração novas ferramentas potentes para fazer os indivíduos e entidades envolvidas na repressão das liberdades em Hong Kong prestarem contas”, sublinhou.

O texto, que foi votado no começo de julho no Congresso americano, visa não somente responsáveis chineses, mas também a polícia de Hong Kong, desencadeando sanções contra restrições de liberdades. A lei também penaliza bancos que, por meio de financiamentos, contribuírem à erosão da autonomia do território.

Liberdade de imprensa

O jornal americano New York Times anunciou na terça-feira que mudaria sua base de operações de notícias digitais de Hong Kong para Seul, na Coreia do Sul. Uma mudança significativa, decidida ao mesmo tempo que o anúncio de Donald Trump sobre o fim do estatuto  privilegiado da região.

Com forte proteção para o discurso livre, próxima da China e com generosas políticas de visto, a ex-colônia britânica foi por muito tempo um importante centro de mídia na Ásia. Diversos meios de comunicação têm bases regionais operando na cidade, incluindo CNN, Bloomberg, Agência France-Presse, Financial Times e Wall Street Journal.

De acordo com o NY Times, alguns empregados do jornal tiveram dificuldades para obter vistos de trabalho, “obstáculos que são lugar comum na China, mas que raramente eram problema na ex-colônia.” A nova lei assinada pela China gerou “incertezas” sobre o futuro da região como polo para o jornalismo na Ásia.