China critica países ricos e impasse sobre financiamento climático marca evento pré-COP

Atualizado em 13 de outubro de 2025 às 23:57
Sessão de abertura da pré-COP em Brasília: da esq. para a dir., o ministro Fernando Haddad (Fazenda), o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, e as ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas) – Foto: Gabriela Biló/Folhapress

O financiamento climático dominou a abertura da pré-COP, realizada em Brasília, com destaque para os impasses entre países ricos e em desenvolvimento. A principal preocupação foi a dificuldade em destravar os recursos prometidos para adaptação às mudanças climáticas, repetindo o padrão de edições anteriores da conferência da ONU. O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, reconheceu que há “pedidos múltiplos” e “promessas mais limitadas”, reforçando a urgência de aumentar o apoio financeiro às nações mais vulneráveis.

Um grupo de 41 organizações civis entregou uma carta solicitando que o financiamento para adaptação triplique, apontando um déficit global de mais de R$ 2 trilhões. O debate também abordou a transição energética e a redução do uso de combustíveis fósseis, considerados pontos sensíveis para o encontro em Belém, em novembro. O grupo G77, que reúne países em desenvolvimento, voltou a exigir mais clareza sobre o “roadmap” climático elaborado por Brasil e Azerbaijão, destinado a mobilizar US$ 1,3 trilhão, mas a reunião sobre o tema terminou sem avanços concretos.

Os discursos de potências mundiais chamaram atenção. Os Estados Unidos mantiveram o boicote herdado do governo Trump e não enviaram representantes. A China criticou “medidas unilaterais”, em defesa do multilateralismo, sem citar diretamente o ex-presidente americano. Já a Índia teve uma postura mais moderada, apoiando a implementação dos acordos já firmados, enquanto a União Europeia manteve posição cautelosa e não apresentou novos compromissos.

Donald Trump, presidente dos EUA – Foto: Reprodução

Entre as economias europeias, a Alemanha foi uma das poucas a mencionar a necessidade de reduzir combustíveis fósseis e defender investimentos em adaptação. Negociadores observaram que, apesar da retórica de sustentabilidade, muitos países do bloco enfrentam crises fiscais e priorizam gastos militares, o que dificulta o cumprimento das promessas de financiamento climático. A falta de novos compromissos por parte dos países ricos amplia as incertezas sobre a COP30.

A presidência brasileira tenta construir consenso para evitar bloqueios nas negociações, que tradicionalmente emperram logo no início das conferências. Corrêa do Lago afirmou que o objetivo é “assegurar uma COP na qual a gente possa avançar nas negociações”, evitando disputas sobre a inclusão de novos temas que possam travar o debate. Segundo observadores, as discussões antecipadas em Brasília são vistas como um alerta para que as divergências sejam reduzidas antes do encontro principal.

Além do tema financeiro, duas pautas centrais surgem para Belém: a transição energética justa, que busca equilibrar benefícios entre países ricos e pobres, e o “transitioning away”, que propõe caminhar para longe dos combustíveis fósseis. Ambas ainda carecem de consenso, refletindo o desafio de conciliar interesses econômicos e compromissos ambientais. A defesa da Itália pelos biocombustíveis também surpreendeu, por se tratar de uma pauta historicamente brasileira.