China prende dezenas de membros de igreja clandestina

Atualizado em 15 de outubro de 2025 às 8:28
Fachada de igreja católica na cidade de Zhengzhou, na China. Foto: Peter Griffin/Public Domain Pictures

As autoridades chinesas prenderam o pastor Jin Mingri — também conhecido como Ezra — e dezenas de pessoas ligadas à Igreja Zion, uma das maiores congregações cristãs não registradas do país. Segundo familiares e membros da igreja, as detenções ocorreram na sexta-feira (10).

Jin, de 56 anos, foi preso em sua casa, na cidade de Beihai, província de Guangxi. Sua filha, Grace Jin, que vive nos Estados Unidos, afirmou que cerca de 30 pastores e trabalhadores da Zion também foram detidos ou desapareceram em cidades como Pequim, Xangai e Shenzhen. A família ainda não conseguiu contato com o pastor, mas relatos de outros fiéis indicam que ele é acusado de “divulgação ilegal de informações religiosas”.

Fundada em 2007, a Igreja Zion chegou a reunir mais de mil pessoas nos cultos de fim de semana, tornando-se um dos principais símbolos do cristianismo independente no país. A Constituição chinesa garante liberdade religiosa, mas, na prática, o Partido Comunista autoriza apenas instituições religiosas aprovadas pelo Estado. Mesmo assim, estima-se que dezenas de milhões de cristãos participem de igrejas domésticas, conhecidas como house churches.

China detains dozens of underground church pastors in crackdown | Reuters
O pastor Jin Mingri, da Igreja Zion. Foto: Reprodução

Desde que Xi Jinping assumiu a liderança, as restrições sobre grupos religiosos não reconhecidos aumentaram. Em 2018, uma campanha nacional levou ao fechamento de várias dessas igrejas, incluindo a Zion. Após o fechamento, Jin foi colocado sob vigilância constante, impedido de deixar o país e obrigado a se mudar de Pequim.

Apesar disso, ele continuou a liderar cultos menores e a transmitir sermões pela internet. Durante a pandemia, a audiência virtual da Zion cresceu, alcançando cerca de 10 mil pessoas em plataformas como Zoom, YouTube e WeChat.

Nos últimos meses, membros da igreja temiam uma nova ofensiva. O governo havia anunciado novas regras que limitam as atividades religiosas online a canais oficialmente registrados. Segundo Grace Jin, seu pai chegou a dizer aos agentes de segurança que pretendia se aposentar e reunir-se à família, mas o pedido foi negado.

Após a divulgação das prisões, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, pediu publicamente a libertação do pastor. Corey Jackson, fundador da organização norte-americana Luke Alliance, afirmou que esta é “sem dúvida a maior repressão contra cristãos na China desde 2018”.

“A igreja chinesa é mais resiliente do que muitos imaginam — talvez mais do que o próprio Partido Comunista percebe”, disse Jackson.