
No condomínio de alto padrão no Jardim Botânico, em Brasília, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cumpre prisão domiciliar desde agosto, um churrasco na última sexta-feira (12) se transformou em motivo de discórdia. A confraternização, regada a picanha, vinho e cerveja, foi organizada por moradores para celebrar a condenação do golpista pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A Primeira Turma da Corte fixou a pena em 27 anos e 3 meses de prisão, decisão considerada histórica pelos opositores do ex-chefe do Executivo.
O encontro, segundo o jornal O Globo, começou de forma restrita, com vizinhos reunidos em torno da churrasqueira. A comemoração, inicialmente discreta, ganhou repercussão no dia seguinte, quando o grupo de WhatsApp do condomínio amanheceu tomado por mensagens inflamadas.
“Ridículo. Não quero que isso se repita aqui”, escreveu um morador logo cedo no sábado (13). Outro foi mais incisivo: “Não vamos permitir esse tipo de comemoração no condomínio”.
Entre as mensagens, houve também quem preferiu ironizar. Um participante do grupo comentou estar “chateado por não ter sido chamado para o churrasco”, enquanto outro admitiu que, embora não tivesse participado, havia aberto um vinho em casa. A resposta veio carregada de sarcasmo: “O erro foi não compartilhar”.
A divisão de opiniões rapidamente acirrou os ânimos. “Se continuar assim, vou pedir a exclusão de quem provocou essa situação”, ameaçou um vizinho. Alguns tentaram minimizar a polêmica. “Tá dentro da casa da pessoa, tá em paz. Não incomodando ninguém e nem infringindo nenhuma lei do condomínio. Logo, paz!”, ponderou um morador. O apelo, no entanto, não foi suficiente para encerrar a discussão.

Coube ao administrador do grupo intervir para tentar conter o clima de hostilidade. “Só vi agora essa vergonha que fizeram ontem. Essa é a última vez que aviso. Na próxima, removerei do grupo”, escreveu.
Ele pediu calma e lembrou que o espaço deveria ser reservado a questões práticas, como portaria, garagem ou regras internas. “Comemorem ou falem o que quiser com seus familiares. Agora, ficar querendo chamar atenção em grupinho de WhatsApp de condomínio? Pelo amor de Deus”, acrescentou.
O embate no grupo não foi um caso isolado. Antes mesmo da condenação de Bolsonaro, o espaço digital do condomínio já havia se tornado palco de manifestações políticas, extrapolando a função original de avisos rotineiros. Desde que o ex-presidente passou a cumprir prisão domiciliar, a rotina do condomínio também mudou.
Parte dos vizinhos reclama da movimentação constante de policiais, jornalistas e apoiadores que se concentram nas proximidades, alegando perda de sossego. Outros, em contrapartida, afirmam que a vigilância intensificada trouxe mais segurança ao bairro nobre.
A condenação de Bolsonaro pela Primeira Turma do STF se deu por cinco crimes: tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Ele recebeu pena de 27 anos e 3 meses de prisão, que inicialmente deve ser cumprida em regime fechado, embora atualmente esteja sob medida cautelar de prisão domiciliar.